Se a crença irrestrita de que nu gratuito não existe for a única condição para elas continuarem alimentando de beleza e charme o escurinho das nossas gavetas, então que se dane o nu gratuito. E, para reforçar a vacina, aqui vai um outro forte argumento contra o degenerado: considerando-se que uma revista especializada em nus não custa menos que seis paus (como dizia a saudosa Aracy de Almeida), o nu gratuito morreu junto com o PC Farias e a Suzana Marcolino.
Outro dia, uma modelo dessas, tão linda e tão maravilhosa
quanto - digamos - um tanto desinibida no quesito
verbal, dizia que não se sentiu constrangida na hora de tirar
a roupa e ser fotografada. Quem estava ali não era ela, mas sim
a personagem que ora representava.
O seu nu, portanto, não era gratuito, e isso a teria deixado
totalmente à vontade. Aliás, para gáudio e satisfação
de todos nós, homens bem intencionados que no ventre da mãe
terra vivem, e cujos olhos ela ainda haverá de demorar para comer.
Assim, meninas, não há mais o menor motivo para pânico.
Baixem as calcinhas que todos haveremos de elevá-las,
mesmo que só em pensamento, aos píncaros do mais glorioso
apreço. E o sujeito que disser o contrário será convocado
a levar flores ao Maguila e convencê-lo a sair pelado na Íntima,
de luvas de box e de bunda pra cima.
O Dilonei, um gaúcho conhecido meu que odeia o Olodum e o
Tangos e Tragédias e costuma recitar Neruda para
as freguesas da farmácia onde trabalha, certa vez me disse
o seguinte, diante de um pôster da Maitê Porença:
- Eu queimo pestana dia e noite, mas não consigo entender
qual é a diferença entre ela e a personagem da novela.
Mas deixa pra lá, velho. Não comente isso com ninguém.
Enquanto elas pensarem assim, nós é que lucramos.
E viva o nu que não é gratuito! E se for o caso, o
outro também, que do lado de cá ninguém é louco
pra ficar
alimentando esse tipo odioso de discriminação!
Tailor Diniz é autor dos livros O Assassino Usava Batom e
o Círculo da Paixão, entre outros.
E-mail: tailor@uol.com.br