ODARA OU DESCE
por El Comanchero
(seguinte, não saquei o que é esse papo de odara, nem quero saber, mesmo, porque se for o que eu acho que deveria ser, meu texto vai ser totalmente considerado, ou destruído. Não interessa, porque eu sou um escritor que procura apenas insuflar a discórdia e provocar polêmica usando nomes fictícios. E chega de papo e leia isto:
OS PIORES BURGUESES SÃO OS COMUNISTAS
Duas e meia da manhã, Gilberto fuma um cigarro em um
bar da Independência. Não, não é um bar da moda. Ele odeia
bares da moda. Na verdade ele nem sabe se o bar é ou não na
Independência. Já tomou a sua garrafa de vinho tinto Canção e
agora curte a fumaça do cigarro dançando na frente do seu
nariz. Ele fica observando o dono do bar varrendo o chão, as
cadeiras viradas em cima das mesas, somente Gilberto azucrinando
o dono do bar com sua presença prá lá de incoveniente. Ele
tomou o vinho durante quatro horas, usou a sua mesa para quatro
pessoas, não deixou ninguém sentar por perto e ainda ficou
fazendo pregações políticas escabrosas e sem sentido. Os
outros olhavam para ele e riam ou viravam a cara. Morte aos
comunas, ele berrava. E fumava outro cigarro. E bebia seu vinho
tinto de segunda categoria. E fedia como um ônibus de excursão
prá Cidreira no caminho de volta. E vociferava: Comunas
filhosdumaputa. Meu pai
trabalhou quarenta anos, quando faltava um mês para se
aposentar, o que aconteceu? Morreu. Minha mãe ficou num mato sem
cachorro. Ela era uma dona de casa. Teve que começar a costurar,
lavar roupa, enfim, nós nos fudemos. Total. Porque? Por causa
dos comunas. Ficam pregando reformas, revoluções e quando menos
se espera os homens chegam e cortam tudo de novo. Não há
condições. Mooorte aos comunas! Cada vez mais forte ele
berrava. As pessoas, assustadas, iam embora. Mas o dono do bar
não o expulsava. E agora, duas da manhã ele estava lá, seu
último cigarro apagando, sem mais nenhum dinheiro no bolso. O
bodegueiro o encarou. Gilberto deu uma cusparada no chão recém
varrido. O bodegueiro varreu de novo. Gilberto cuspiu de novo. O
bodegueiro varreu a terceira vez. Uma mulher usando um longo
vestido preto entrou no bar. Olhou para Gilberto. Fez um sinal
com a cabeça. Gilberto se levantou, resmungou algo para o dono
do bar e seguiu a mulher. Eles entraram em um passat alemão e
seguiram direto para casa. Ah, Gilberto, quando é que tu vai
parar de ir a esses lugares nojentos. Hoje tinha a festa de
lançamento do bar Luna Caliente. Porque tu não foi, seu bobão.
Gilberto não falou nada.
Estava pensando no discurso que faria na assembléia do
Sindicato. Duas propostas: Diminuição da carga horária e
aumento no número de vagas. Sem aumento de salários. A
situação estava difícil. Os patrões não queriam saber de
papo. O negócio era garantir a próxima eleição. E Sabrina
tinha coxas grossas e cabelos crespos e loiros. O vinho tinha
aumento a pressão sanguínea. Marx e Engels. Seria um bom nome
para o restaurante que ele iria abrir com o dinheiro da
eleição. E Sabrina iria gostar. Teria sua própria casa
noturna. Nada como ser um bom burguês. Engajado. E que horas
começava a partida do Guga no Sportv? Não interessa, até lá
Gilberto teria muito tempo. Tentando descobrir se nariz fazia
cosquinha no umbigo. Yeahhhh! Ahhhhh! Ah! Ah! Ah! Uuuuuuh! Mmmmm!
Yeahhhh! Eeeia!
El Comanchero, um solitário nas montanhas do Novo México.
XXX
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