O Nome de Deus pode ser considerado uma continuação
de seu livro de contos anterior, O Homem e seu algoz (Bertrand do Brasil,
1998). Trata-se de dez histórias, escritas entre o panfletário
e o poético, sobre dez diferentes tipos humanos. A arquitetura dos
personagens por vezes é feita sobre tijolos ideológicos.
Não se assunte ao ler críticas à elite, à imprensa
ou aos políticos no mesmo tom de uma conversa de botequim. É
preciso ter perseverança para ultrapassar o que pode parecer um
retrato malfeito de uma
burguesia de novela ou de um proletariado de manifesto
comunista até chegar ao singelo, ao detalhe, à epifania do
texto. Um caminho às vezes espinhoso mas, acredite, compensador.
Fausto Wolff leva ao extremo a máxima de Umberto
Eco: "Todo o mundo ficcional se apóia parasiticamente no mundo real,
que toma por seu pano de fundo." Seus contos têm a realidade enraizada
nas histórias. São comuns as citações de casos
que estiveram nas primeiras páginas dos jornais ainda ontem, como
as privatizações e a queda do edifício Palace I, construído
pelo deputado Sérgio Naya. Tem-se a impressão de se estar
lendo um conto escrito ontem mesmo. Os contos de Fausto Wolff nos tocam
pelo real absurdo da vida cotidiana e pela proximidade de seus personagens.
Os personagens andam pelas ruas que você conhece, bebem nos bares
que você freqüenta, lêem os jornais que você lê
e se parecem, e muito, com esta multidão sem rosto com a qual
você convive.
Não há redenção nas histórias de Fausto Wolff. A crueldade é toda ela destilada em contos como "A Vidente", no qual até tão propagada solidariedade não passa de um embuste. Ou então em "O Passarinho", que conta a história de um louco tão desgraçado e inviável quanto os personagens de Dostoiévski.
Fausto Wolff é um escritor realista in extremis. Talvez seja por isso que a imprensa o ignore tão solenemente: nada pior do que saber que as sanguinolentas e escandalosas manchetes diárias são mesmo verdadeiras.
15/05/99
Paulo Polzonoff Jr
polzonof@sulbbs.com