Não confie em ninguém com mais de 30,
a menos que você seja um deles!
por Roberto Tietzmann
 
 
Na contracultura dos anos 60 (ou pelo menos no final deles), ter trinta anos era uma espécie de data-limite para pactuar com o sistema. E o pior: era compulsória! Se você tivesse mais de trinta, estava frito! Já teria sido assimilado pelo bafo quente da moral e dos bons costumes e não restaria nada a fazer. Exceto abrir uma caderneta de poupança e torcer pela ARENA nas eleições.

O grande conflito dentro da cabeça das pessoas vem quando se precisa escolher entre manter a coerência consigo mesmo ou pactuar com a sociedade falida. E isto é tão verdade hoje quanto era 30, 100 ou 4000 anos atrás. E não adianta me apontar o dedo e me recriminar por ter dúvidas a respeito! Sei que vez que outra você também precisou dar o braço a torcer. E aceitar aquele santinho do Maluf Presidente porque afinal, quem estava distribuindo estava só fazendo seu trabalho, não é mesmo? Quem achar que estou mentindo, que atire o primeiro elepê do Raul Seixas!

O mais aterrorizante dos dias de hoje é chegar à conclusão que não há mais data-limite para a careteação. Trinta anos, inclusive, é tempo demais! As pessoas careteiam nas famílias classe média quando saem do segundo grau  ou até mesmo antes! Via de regra, careteiam quando seus pais dizem a elas que têm de assumir alguma responsabilidade. Falta a elas peito para fazer diferente do que seus pais, avós e bisavós fizeram! Não tem coisa mais idiota que ver o mundo entrar em temporada de reprise, e é bem isso que vemos acontecer o tempo inteiro.

Envelhecer é a única maneira de permanecer vivo e, pensando bem, não é tão mau assim. Você tem mais tempo para fazer o que quer da vida, mesmo que o salário só dê para uma semana do mês. O lado mau do envelhecimento é o externo, das rugas, pelancas e calvície. Mas mesmo esse tem cura, ou pelo menos, fita crepe. Dentro da cabeça, todavia, ou você decide fazer melhor que as gerações anteriores ou está frito. E ter uma cabeça de 96 anos em um corpinho de 20 não faz de você uma pessoa à frente do seu tempo... mas sim um anacronismo ambulante.

Não é preciso acender uma vela para Fernando Gabeira, Jimi Hendrix e o  Jefferson Airplane para fazer viver o espírito dos anos 60. Aliás, alguém aí sabe me dizer se o que se pensava há 30 anos ainda funciona hoje? Ainda dá para confiar nestas idéias de mais de 30 anos? Será que elas não caducaram? Será que ainda acreditam em si mesmas, mesmo depois dos 30? Ou está na hora de botarmos fogo nelas e fazermos nossa própria revolução, independente da idade?
 

Roberto Tietzmann
rtietz@zaz.com.br
 
 

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