A Voz da Ana Paula Arosio
de Daniel Peccini
Com a abertura da telefonia no Brasil, todos nós brasileiros ficamos conhecendo melhor como funcionam as nossas contas telefônicas, como é feito o cálculo, quem é mais barato e como é bonita a Ana Paula Arosio.
Convenhamos, Deus não queria fazer uma mulher, quis fazer uma boneca e então resolveu dar vida a ela. E neste processo de transformação, mesmo hipnotizado pela beleza que criara, Deus não se desconcentrou e deu a Ana Paula uma voz linda. É nisso que quero me prender.
Foi num intervalo do Jornal Nacional, eu estava deitado no sofá meio que olhando pro licor frangélico alí na prateleira em dúvida se trocava a preguiça por um copinho, quando veio aquela voz:
- Faz um vinte um.
Com certeza a voz engana muito. Quantos casos de ouvintes apaixonadas pelo locutor devido a sua voz. Isso é mal, pois cria uma expectativa fora da normalidade. Depois que a vidraça se quebra é que a gente vai prestar atenção no que aquela voz está dizendo.
No caso da Ana Paula Arosio é diferente, mesmo consciente que é preciso saber usar a voz. Eu nao vejo graça em telesexo. É uma voz de plástico,de filme pornô americano, de quem não sabe usar a voz. Faz sucesso porque assim como as pessoas tem mal gosto pra música e gostam de cada coisa terrivel, elas também tem mal gosto pra voz e preferem gastar 4,95 por minuto do que a voz da Ana Paula Arosio, que seria mais uma candidata a desemprego se fosse mulher de telesexo.
No lado masculino eu não vejo muitas vozes interessantes, mas com certeza David Gilmour -na epoca do Meddle- é um cara a ser respeitado. Se eu pudesse escolher uma trilha sonora para o fim do mundo, eu colocaria o Gilmour conversando com a Ana Paula Arosio ao som de One More Kiss Dear, da trilha do Blade Runner. Bom, se o mundo não acabar,vou dar um jeito de fazer uma montagem e colocar isso no meu despertador, afinal, acordar de bom humor é importante pois influencia o nosso dia em termos de sucesso pessoal.
Acho que as agências de propaganda souberam usar bem a voz da Ana Paula. Aquela em que ela diz:
- Faz um vinte um, liga pra mim.
Nos 5 segundos seguintes, o ser humano perceptivo e pouco ligado as coisas práticas e óbvias da vida, pega o telefone e tenta discar. Ele só para quando descobre que não tem o telefone dela. Mas não importa,ficaremos mais um pouco na frente da televisão, pois no próximo intervalo ela vai aparecer de novo e então nossos ouvidos serão preenchidos com sua voz novamente:
- Faz um vinte um.