ITAMAR QUER O FIM DA LEI DA GRAVIDADE
de Gustavo Fernandes
Por essa nem o mais fiel marxista (fã dos Irmãos Marx) esperava! O intrépido ex-presidente e atual governador de Minas Gerais acaba de anunciar sua mais nova cruzada contra as convenções do mundo contemporâneo. Após meses de ataques intermináveis a Fernando Henrique, Itamar Franco elegeu seu novo alvo: Sir Isaac Newton, físico inglês falecido há séculos. O motivo é tão simples quanto polêmico: o estadista brasileiro discorda em vários pontos da famosa Lei segundo a qual tudo o que sobe tem que cair. "Quase fui reprovado no colégio por causa desta arbitrariedade criada por pensadores do exterior, mas agora é o momento de reagir!" revelou à imprensa mineira, declarando que pretende mobilizar a população contra o maior "ícone da repressão à liberdade de ir e vir" que já se inventou.
Segundo alguns assessores, Itamar já pretendia propor uma Emenda Constitucional visando à revogação da malfadada lei no tempo em que era presidente da República, mas foi impedido pelo então ministro Fernando Henrique Cardoso. "Na época não entendi a atitude dele, mas hoje sei que era mais um sinal de que ele só sabia se curvar ao pensamento estrangeiro!" confidenciou o governador ao vice Newton Cardoso, quase-xará de seu novo inimigo público. Mas hoje, livre das amarras que o prendiam ao neoliberalismo (e possivelmente ao bom senso), Itamar Franco organiza a oposição para a derrubada da lei mais antiga da história universal.
Como era de se esperar, a iniciativa contou com a adesão imediata das mais expressivas frentes da esquerda brasileira. Leonel Brizolla aplaudiu de pé "a coragem e a determinação deste baluarte da sabedoria que é o governador de Minas Gerais", afirmando ainda que mobilizará a bancada do PDT para dar apoio incondicional ao projeto. Também o MST e a UNE manifestaram-se favoravelmente à idéia. O presidente da UNE admitiu que "nunca foi muito ligado em Direito", mas não crê que a exclusão da Lei de Newton possa causar qualquer efeito caótico na vida do país. A CNBB, por suas vez, não só concorda com Itamar como sugere a ampliação do movimento contra as idéias de Copérnico e Galileu, a fim de que se volte a estabelecer a Terra como centro do Universo. Inicialmente, o PT posicionou-se contra, apesar dos protestos de Brizolla e da Ala Radical, mas deixou em aberto a possibilidade de modificar seu pensamento conforme o que ficar decidido na próxima reunião do Diretório Central. De todo modo, já está marcado o primeiro ato público em prol da revogação, a ser realizado simultaneamente nas cidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro, para o qual já está programado até mesmo um show de levitação para simbolizar a nova Inconfidência.
Os reflexos da tensão anti-newtoniana já estão sendo sentidos: as Bolsas de Valores estão em baixa e o dólar disparou, o que demonstra que as confusões provocadas pela ausência da gravidade começam a se precipitar antes mesmo da apresentação do projeto ao Congresso Nacional. Enquanto isso, na Europa, a OTAN já se esqueceu do Kosovo e passou as preocupar exclusivamente com a nova crise institucional, ou melhor, gravitacional, que aflige a política brasileira. Nos Estados Unidos, o topete já substituiu o bigode de Sadam Hussein como símbolo do anti-americanismo, a ponto de Bill Clinton já estar pensando em bombardear a cidade de Juiz de Fora como forma de intimidação. O desfecho do caso segue sendo um mistério, mas não seria nada traumático (muito pelo contrário) se a população mundial se unisse e mandasse Itamar Franco para o espaço, onde, por sinal, a gravidade é zero. Infelizmente, embora esta crônica seja obviamente fictícia, eventuais semelhanças com a realidade estão longe de ser meras coincidências...