PASSAR OU NÃO PASSAR MUITO TEMPO EM FRENTE À TELEVISÃO?

de Vinicius Figueira

Eis uma questão que muito incomoda. Pode-se alegar que o tempo gasto em frente à televisão é controlado por aquele que detém o controle remoto. Pode-se argumentar que é muito fácil desligá-la. Isso nem sempre é verdade. Ocorre que há um magnetismo burro entre a tela e o telespectador. Muitas vezes, devido à preguiça, assistimos a programas que não nos interessam. Quantos livros, revistas ou jornais já deixamos de ler por essa atração irracional pela televisão?

Além dos canais regulamentares, cuja qualidade, excluindo-se a TV Cultura ou Educativa, é pior do que o prato quente que você mais detesta (servido frio), há uma variedade de canais que incentivam o consumidor — lembremo-nos de que no mundo atual já não se usa mais a palavra homem — a zapear (será esse verbo intransitivo, caro leitor?) indefinidamente, até que não ache nada que lhe interesse. As horas perdidas com o controle remoto são um retrato patético do homem pós-pós-qualquer-coisa. Do homem fragmentado em mil pedaços, com sua alma pequenininha e com seu espírito de porco. Do homem sedento de matéria viva que lhe tape os buracos que a mãe ignorância perfurou.

Quais são então as alternativas? (Toda vez que critico, sou logo forçado — geralmente por aqueles que se sentem ofendidos, que são por sinal os mesmos que nunca as tem — a oferecer uma solução). Pois eu a tenho: amontoe todos os livros que você comprou e não leu em cima da televisão. Você se sentirá constrangido a ser chamado, por seu superego, de ignorante ou perdulário, afinal compram-se livros para que se saiba mais e os livros estão caros. A conseqüência é que você, envergonhado, lerá mais. Caso isso não surta efeito, é porque você realmente é ignorante ou perdulário.

Consideremos, ainda, uma segunda hipótese, qual seja, aquela que diz respeito ao homem que não lê, que só tem a televisão. A solução para esse caso dou, depois dos parênteses, ao final do parágrafo, de graça (devo ser mesmo ignorante ou perdulário, pois só quem os é não pensa em ganhar dinheiro com seu trabalho, e meu trabalho é escrever. Tente escrever um texto de quinhentas palavras, como este, sobre, por exemplo, o rádio. Escrever dá trabalho e não dá dinheiro. Aí vem o segundo parêntese e depois dele a solução prometida): basta começar a ler.

Se alguém contra-argumentar e disser que televisão é exclusivamente entretenimento, e que estou defendendo uma posição muito elitista ou intelectual porque gosto de ler e escrever, terei de concordar. O que você poderia esperar de alguém que passa mais de seis horas por dia em atividades que envolvem exclusivamente a massa cinzenta? Eu me orgulho, porém, por mais idiota que pareça, de saber a diferença entre soçobrar e sobraçar. Enquanto eu sobraço meu Machado, minha inteligência não soçobra. A televisão, não sei o que ensina. Nem estou zarro por saber. Convenço-me, cada vez mais, avise-me se eu estiver errado, que ela só serve para nublar ainda mais a visão de todos os homens de inteligência igual ou inferior a Mister M.