SAMPA

de Alexandre Inagaki

Sampa - duras ruas caóticas e deslineares

Sampa - sintaxe confusa de sonhos e sons

Sampa - olhares montagem controle remoto

Sampa - broto cinza de crescimento desconexo

Em tuas esquinas me perco e me reencontro

Monstro de gentilezas insuspeitadas

Peito forjado em luz e arabescos

Teu luar anêmico fura o céu sem estrelas

E observa impassível os homens cansados

Sampa, teus sinais verdes são escoamentos de gente

Teus ônibus cheios são viagens redentoras

Nas filas de banco pensando em nada

Pensando pensando pensando e nada

Parques de concreto e lutas abstratas

Putas e pivetes famintos na esquina

Praças, latrinas abertas ao público

Sampa - pútrida, mas tão bela cidade

Sampa que amo e suporto

O silêncio incômodo dos elevadores

A música dispersa das paixões sem espelho

Bocas amargas de palavras recolhidas

E a solidão realçada pela multidão

O vento da madrugada na saída do bar

O azul do céu quando nasce a manhã

A beleza inesperada de tua aurora

Como inesperado é o sorriso banhado em sol e esperança

Uma queda e um reerguer-se contínuos

Sampa, meu coração e minhas angústias

E caminham apressados carregando suas dores

Caminham apressados como se fugissem

Como se pudessem fugir