Ignorância de Tomás Creus
28/11/1999 - 01:02
Pois é. Depois de publicar a série de pensamentos — ou coisa parecida — que decidi chamar de “Aforismas Imbecis”, fui correndo para o dicionário para ver se o título era adequado. O “imbecis” era correto e perfeitamente adequado, isso eu já sabia; do “aforismas” não tinha tanta certeza.
Resultou que termo estava razoavelmente bem utilizado, mas a gramática não: de acordo com dois de meus dicionários, a grafia correta da palavra é “aforismo”, terminando com “o”. (De acordo com o terceiro, “Dicionário da Língua Portuguêza”, de 1936, a grafia correta é “aphorismo”).
Ora, mas então onde eu havia lido (tenho memória fotográfica para palavras, bem, algumas) “aforisma” escrito assim, substantivo masculino mas terminando em “a”? Seria tudo apenas uma alucinação de minha mente? Será que o imbecil aqui sou eu?
Depois de horas de reflexão, cheguei a duas hipóteses:
a) trata-se de um ato falho clássico, já caracterizado por Freud em “Psicopatologia da Vida Cotidiana”, em que a troca de um “a” (indicador do gênero feminino) pelo “o” (indicador do gênero masculino) mostra obscuros desejos eróticos de caráter no mínimo duvidoso;
b) confundi “aforismo” com “sofisma”, que realmente termina em “a”.
Não sei, até agora, qual a hipótese correta e qual o, ahn, sofisma. Tudo o que sei é que “aforisma” escrito assim, com “a”, fica muito mais bonito e sonoro. E que vou manter o título, por enquanto, desse jeito. Afinal, para concluir tudo com um famoso aforismo(a?), este do L.F. Verissimo, e nada imbecil:
“A gramática tem que apanhar todos os dias para aprender
quem é que manda.”