El Comanchero.
APOCALIPSE
por Robert Paulsen
Toda a violência, ódio, perversão e mal da humanidade estavam jogados ali, no meio da calçada. Os quatro visitantes foram massacrados pela multidão ignorante e sedenta de sangue. O prefeito sorria desgraçadamente feliz. A professora do colégio dançava alegremente em torno dos corpos queimados.
Desde três dias antes, dia em que eles chegaram, a cidade não encontrava o descanso. Mal sabiam eles... Naquele dia, a professora saía do colégio, os alunos guardando seus cadernos nas pastas. Mais um final de aula normal na pacata e enjoativa cidade de Albuquerque. O nome da professora eu prefiro não revelar. Nem os das outras pessoas envolvidas nessas história. O da cidade é falso. A única coisa que posso afirmar, com segurança, é a veracidade das palavras aqui escritas. A professora foi abordada por uma loira de um metro e oitenta com seus cabelos longos e lisos. Ela vestia um vestido vermelho arrasador.
- Ei, vamos entrar.
- Mas eu já estou indo para casa.
- Não, senhora. Nós vamos entrar.
- Por quê?
- Porque eu quero te mostrar uma coisa.
- Eu não quero ver...
Mas a professora foi empurrada para dentro da sala de aula e a loira foi logo a agarrando e a jogando para cima da mesa e tirando a sua roupa e a dela. E, apesar de um repúdio mal disfarçado no início, a professora acabou cedendo e as duas se entregaram a uma lambeção desenfreada e um meia nove dos mais mirabolantes e camasútrico jamais visto naquelas paragens. O prefeito estava esperando o secretário de obras em uma estrada secundária. Seu motorista tinha ido mijar no mato, ali por perto, quando um automóvel verde parou ao seu lado. De dentro dele um negro de cabelos zerados e usando um terno cinza desceu e tirando uma pistola automática do bolso a colocou na cabeça do prefeito.
- Cadê o secretário?
- Daqui a pouco ele chega. Larga essa arma, cara.
- Calaboca, palhaço. Não mandei tu abrir a boca. Fica quieto.
- ...
O prefeito berrou o nome do motorista que saía do meio do mato ajeitando as calças. Não deu tempo de avisar. Com a outra mão, o homem de terno disparou outra arma e aniquilou o motorista com o um tirambaço no meio dos cornos.
- Ma-ma-mas, por quê?
- Já ti falei, CALABOCA, OTÁRIO! Nisso chegou o secretário em sua perua importada.
- O que é is...
Não conseguiu terminar a frase. Levou vários tiros com as duas pistolas no peito e morreu sem nem se dar contar nem rezar o pai nosso.
- E fica quieto que sobrou duas, palhaço.
Na padaria no centro da cidade vários homens jogavam carta e conversa fora depois do expediente na principal e única empresa da cidade. Uma fábrica de sabão. Com suas roupas de operários ou, para aqueles que iam dar uma esticada na zona, uma beca bonita para impressionar as meninas, como eles bem diziam. Uma figura sombria e indiferente entrou na padaria. Pediu uma garrafa de conhaque e começou a tomar no gargalo. Todos ficaram olhando aquele sujeito de roupas escuras e chapéu de aba larga. Depois que ele terminou a garrafa, tirou o casaco e de dentro dele saiu uma metralhadora de cacetadas de impactos por segundo. E o homem sombrio abriu uma gargalhada e na escuridão da sua figura resplandeceram seus dentes amarelados do fumo e ele simplesmente fuzilou todos os operários ali presentes.
- Morram, plebe suja. Morram, enquanto é tempo. Enquanto a vida é vida e não há choro, nem ranger de dentes.
De todas as coisas que aconteciam naquela quinta-feira, a mais absurda ainda estava por acontecer, uma morena vestida de roupa colante preta esperava na saída de um prédio comercial, o único da cidade, a saída dos clientes e dos funcionários. Quando viu que todos tinham saído, apertou o botão e um estrondo foi escutado a quilômetros de distância. Ela detonou trocentos quilos de dinamite e explodiu o prédio, arrebentando com toda uma quadra no centro da cidade. Centenas de mortos feridos. O inferno. E ainda era quinta-feira. Pois na sexta nada aconteceu. No sábado, também, No domingo, depois de uma forte chuva pela manhã, os quatro destruidores, assassinos e pervertidos foram encontrados incinerados no meio da rua. Os cachorros fugiram primeiro. Depois, o programa de televisão e os jornalistas. No final sobrou só a professora e o prefeito.
- O que faremos?
- Não sei. Lá em casa eu tenho um videocassete.
- Bom então vamos no mercado comprar pipocas. As frutas são apenas o começo.
- Não gosto de frutas.
- Nem eu.
Robert Paulsen
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