por Tomás Creus
Os dois maiores sucessos do cinema americano recente foram "A Bruxa de Blair" e "Star Wars, Episódio Um" - dois filmes totalmente opostos nos seus custos e intenções, embora idênticos na decepção que causam ao público. Se isso ensinou alguma coisa, foi o seguinte: na era do virtual, o filme é apenas um detalhe. Com uma boa campanha de lançamento, a obra em si pode ser boa ou ruim, cara ou barata, tanto faz: todo mundo vai querer ver mesmo assim, nem que seja só para criticar.
Depois de analisar exaustivamente as táticas de marketing utilizadas pelos recentes "megahits", cheguei aos dez métodos fundamentais necessários para que você - sim, você mesmo, com uma câmera caseira de vídeo ou um Super-8 - rode o seu sucesso mundial e ganhe milhões.
1. Fazer o filme é fácil: pegue três atores, dê-lhes uma câmera, solte-os no meio da floresta e deixe-os fazer o filme por sua conta. Depois espalhe que tudo foi "um caso real". Caso os atores sejam dois reconhecidos canastrões globais e uma modelo "que quer ser mais do que um rosto bonito" (não vamos citar nomes), escolha uma floresta com grande número de animais selvagens perigosos. E faça com que se trate mesmo de "um caso real".
2. Capte as imagens em vídeo (VHS), de preferência com a câmera sempre tremendo e as imagens fora de foco. Mesmo que ninguém enxergue nada, sempre se pode dizer que isso faz parte da "estética". Se alguém reclamar, diga que é uma das regras do "Dogma" (não é necessário especificar qual).
3. Morra: o público é necrófilo. Veja o caso do Stanley Kubrick, que morreu antes de lançar "De Olhos Bem Fechados", o qual, mesmo sem ser seu melhor filme, acabou se tornando seu maior sucesso de bilheteria. Não esqueça de preparar antecipadamente os cartazes com os clássicos dizeres: "O último filme de... " (mesmo que também seja o primeiro).
4. Caso você não queira morrer, para poder desfrutar um pouco que seja das glórias que virão, então mate seu ator principal. Ele ficará eternamente agradecido. (Caso ele não concorde, convença-o falando sobre o caso de Brandon Lee, destinado a ser um ator medíocre de filmes de pancadaria vivendo à sombra do pai e que, graças ao tiro que levou nas filmagens de "O Corvo", virou um ator "cult". E não falemos de James Dean, Marilyn Monroe...)
5. Tudo pode ser utilizado para promover o filme, basta ser esperto. Por exemplo, se o filme for recusado pelo Festival de Cannes, você pode anunciá-lo como "O filme que Cannes não ousou mostrar". Você pode ainda incluir esta brilhante sub-chamada: "Com as chocantes cenas que a TV não mostrou" (que se referem, naturalmente, a todo o filme).
6. Caso você deseje atingir especificamente o público adolescente, coloque uma faixa preta sobre os cartazes de divulgação com os dizeres: "Filme ultra-violento não recomendado para menores de 18 anos". Não esqueça de incluir o "ultra-violento", se não eles vão achar que é apenas mais um filme pornô com cenas iguais às que eles os podem ver em qualquer programa de auditório da TV. Pensando bem, as cenas ultra-violentas eles também podem ver na TV, mas tudo o que é proibido é melhor.
7. Utilize os famosos métodos de associação inconsciente, e pegue carona no título de algum filme já famoso para promover o seu. Por exemplo, "O Oitavo Selo".
8. Assim como alguns filmes, nas campanhas publicitárias, exageram seu custo para promovê-lo ("O filme mais caro da história!! Milhões de dólares desperdiçados!! "), o processo inverso também é sucesso garantido. Tipo: "O filme mais barato da história, feito com apenas 500 reais mais o troco da padaria". Experimente! Falar do orçamento é sempre mais excitante do que mostrar tediosas sinopses ou descrições de personagens nas quais ninguém está mesmo interessado.
9. As continuações, por piores que sejam, sempre rendem, já que, para o espectador comum, os filmes anteriores emprestam, ainda que de forma inconsciente, algo do seu prestígio à nova obra. O tal "Episode One", por exemplo, faturou milhões, mesmo sendo bem inferior à trilogia original. O que você pode fazer para tirar partido desse interessante fenômeno psicológico é lançar o seu filme como se já fosse uma continuação de um filme que nunca existiu: "A Volta dos que Não Foram - Parte II". O público, no mínimo, vai ficar curioso.
10. Caso nenhuma das táticas acima funcione, você sempre pode aproveitar a publicidade negativa. Se a crítica malhar implacavalmente o filme em todos os jornais, os seus próprios amigos reclamarem, e o público ficar de pé ao fim da sessão, gritando "O diretor! O diretor! ", mas segurando tochas flamejantes e uma forca, você pode lançar a obra novamente alguns meses depois, com um único slogan: "O FILME MAIS POLÊMICO DO ANO". Funciona...
Tomás Creus
é diretor do curta-metragem "O Oitavo Selo" (que é, evidentemente,
uma continuação de "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman).