(Para ler ouvindo Telstar dos THE VENTURES)

HOMEM
QUE
É
HOMEM
NÃO
ANDA
DE
COSTAS
NEM
DORME
DE
BRUÇOS 

 

por Carlos Maneiro, auto-entitulado "o último guerrilheiro romântico"

 

A violência dominava o coração de Albuquerque, um advogado sanguinário de porta de cadeia que trabalhava na 14ª DP. Como odiava aqueles chinelões que tinha que defender! Porcos sujos, estupradores, traficantes, infanticidas, políticos, economistas de plantão esperando cair mais um morto na porta do Banco Central. Eles fediam a carniça de gato atropelado na autopista. Mas era seu serviço, seu trabalho, seu ganha-pão, apesar de ele preferir Black Label.

Albuquerque entra pela porta da delegacia. É recebido pelo inspetor Fernando, um capacho melequento com bigodinho de Cantiflas e fedendo a Marlboro sem filtro. Um escroto da sociedade. Um funcionário público sujo e relapso, que roubava quilos e quilos de pó do depósito central e vendia para playboys tapados em festas e surubas afins. Qual é o caso de hoje?

- E aí, Fernandão, qualé o problema?

- Seguinte, tamos aí com um palhaço que comia a irmã de doze anos e sacava o dinheiro da aposentadoria da mãe inválida para comprar crack e revender na saída de um colégio de freiras.

- Mais um filho-da-puta, desgraçado! Filho-da-puta.

- Calma, aí. Tem uma atenuante. Ele tem ficha limpa. Mais limpa que bunda de nenê.

- Mas bunda de nenê vive cagada!

-Tu entendeu, doutor. Não te faz.

Albuquerque tinha que defender um merda daqueles. Não tinha jeito. Era sua vida. Defender párias, cachorros e salafrários inescrupulosos. Néscios imundos de uma sociedade hipócrita e corroída, contaminada pelo vírus da futilidade pueril e sádica das avós que assistem às reportagens policiais com a mesma desenvoltura que colocam sal no ovo frito em cima do prato. Albuquerque foi apresentado ao vagabundo na salinha. Salinha de bate-papo da DP. Bons tempos os de antigamente. Botava um merda desses no pau-de-arara e dava choque elétrico no saco. Amarrávamos ele no teto pendurado pelo prepúcio enquanto brincávamos de jogar baratas e centopéias vivas em sua boca escancarada por um abridor de latas. Ele viveria vários dias antes de morrer sufocado pelo próprio vômito cheio de bosta de cachorro que o faríamos comer com bolotas de haxixe estragado. Mas, agora? Tínhamos que defender um porcaria desses. Albuquerque olhou bem nos seus olhos e o marginal, de nome Tião, também o encarou. Que lábios, pensou Albuquerque. Que bela boca de canalha. E se atirou em seus braços e o beijou com toda a força, mordendo seu bigode mal cortado de duas semanas. Tesudo! Nisso entrou o delegado, cuspindo um catarro mal curado do ano anterior, e vendo a cena, puxou sua automática do coldre e com um tiro só, mirando bem nas cabeças homossexuais que se contorciam, matou os dois putos com apenas um projétil, ensinou o oficial na ordem de serviço, trinta anos antes, quando servia no décimo terceiro batalhão de infantaria motorizada.

- Bixa boa é bixa morta! Berrou o delegado antes de enfiar a 45 na própria boca e emporcalhar toda a sala com seus miolos de cérebro de minhoca. O inspetor Fernandão que observou tudo ao pé da porta, saiu correndo para o banheiro fumar um cigarro de maconha e bater uma bronha bem batida enquanto enfiava um supositório de heroína no cu. Como era gostosa a vizinha do 312. Gostosa. Gostosa e puta. E ainda mais agora que estava grávida de oito meses. Não tinha jeito, amanhã Fernandão a convidaria para pegar um cineminha, uma pizzaria e um motelzinho mucufo da periferia. Bem barato. E fudê-la até deixar sua xota em carne viva e escovar seu ciso com sua benga e cortar sua perna com sua navalha de Hong Kong comprada em Puerto Stroessner. É claro!

 

Homem que é homem enfia aqui pra voltar pro NÃO