A
MULHER
DA
BOCETA
FOSFORESCENTE
Por Tomás Creus
[Obs.: Este é um conto que faz anos eu tive a idéia para escrever, mas por uma razão ou outra nunca me animei. Agora, sabendo que os únicos que porão os olhos nele serão os depravados leitores do Não 69, decidi finalmente escrevê-lo. Se valeu a pena ou era melhor tê-lo esquecido, decidam vocês. Em todo caso, para contrabalançar, leiam as minhas Historinhas Anti-Eróticas, também neste Não 69.]
NOTA DO EDITOR, FURIOSO: Como vocês podem perceber, o Tomás está tentando tomar o meu lugar de editor. Como ele sabe que eu selecionei as outras contibuições dele? E se eu não gostasse? Hein? Tu vês, o sujeito ganha uns prêmios e já acha que pode ficar mandando no editor do NÃO 69. As pessoas não tem mais noção do seu lugar no planeta, vocês não acham?
Capítulo I - Incredulidade
- É difícil de acreditar, eu sei. Mas é verdade. É a pura verdade.
A voz de Cláudio soava séria, sem nenhum traço de ironia. Mas ainda assim Pedro não se
convencia. E como poderia se convencer, se era algo tão absurdo, tão contrário às leis da
física ou da biologia?
- Você está me gozando! Boceta fosforescente? Onde já se viu?
- Não sei. Uns dizem que ela uma vez transou com um cara que tinha um implante no pau
feito com material radioativo, e por isso ficou desse jeito. Outros dizem que é uma mutação
genética ou disfunção hormonal. O fato é que ela é assim, e pronto.
- Não acredito. Me desculpa, mas não acredito.
- Pedro, vai por mim. Ela tem a boceta fosforescente. Brilha no escuro. Eu vi.
Capítulo II - Insônia
Pensando bem, Cláudio não tinha porque mentir. Se ele dissera que vira, é porque vira
mesmo. Na verdade, o amigo nem mesmo fora o primeiro a insinuar a Pedro as características,
por assim dizer, especiais do órgão genital da Sra. Martins; ele fora apenas a primeira pessoa
que dera uma aura de verossimilhança a um caso que, viesse de outra fonte, Pedro teria
considerado como mero boato.
A Sra. Martins tinha trinta e quatro anos, quinze deles casada com o "seu" Martins, um
subalterno da firma. Era uma mulher simples; fora a referida característica sexual, ainda não
comprovada, ela oferecia poucos atrativos. Não chegava a ser feia, mas também não se podia
dizer que fosse bonita, e as rugas ao redor dos olhos, a celulite, as estrias e o sorriso
cansado pouco ajudavam. Além disso, era baixinha e meio gorda e, possivelmente, também burra.
É claro - pensava Pedro, que no fundo era um romântico - é claro que a boceta fosforescente, caso existisse, compensaria tudo.
Capítulo III - Insensatez
O desejo é mais forte do que a prudência; mais forte, muitas vezes, do que o próprio
instinto de preservação. Depois da conversa com Cláudio, e de várias noites mal-dormidas,
Pedro passou a freqüentar com maior assiduidade a casa dos Martins. Trazia vinhos, presentes,
ia aos poucos forjando uma amizade com o "seu" Martins, o qual, se chegava a estranhar tanta
simpatia vinda de um superior, calava por conveniência.
A mulher, ao contrário, parecia não gostar muito das repetidas visitas de Pedro, pois
percebia bem os olhares que este lhe dirigia durante os ocasionais jantares a que este
comparecia. Mas, aos poucos, talvez pela indiferença do marido a uma situação óbvia, foi se
acostumando, e, também aos poucos, chegou a retribuir alguns dos olhares que recebia. Mas nada
além.
Pedro, de vez em quando, deixava cair o garfo para espiar, por baixo da mesa, a
calcinha rendada da Sra. Martins, em busca de um reflexo que fosse da pálida luz genital; via,
no máximo, um que outro pelo púbico escapando pela borda das rendas. Mas nada além.
Capítulo IV - Interlúdio
- Escuta, Cláudio...
- Hum.
- Você tem certeza que ela tem a boceta fosforescente?
- Putz. Você ainda tá nessa?
- Eu preciso saber, Cláudio. Quando você comeu ela?
- Faz tempo, cara. Mas eu lembro bem. Ela tinha a boceta fosforescente. Porra, e
alguém vai esquecer uma coisa dessas? Não é todo dia que se encontram bocetas fosforescentes
por aí.
- Mas fosforescente como? Os pentelhos brilham?
- Não, não os pentelhos, a... A coisa, ora. O órgão. A boceta, porra. Mas só quando
está molhada.
- Que cor?
- Cor?
- Tem que ter uma cor.
- Azul, cara. Azul brilhante.
- Tem certeza que o que você viu não foi uma tomada, ou...?
- Porra, cara. Tá me chamando de burro? Eu sei o que vi. Uma boceta azul, brilhando no
escuro. - E suspirou: - Maior tesão.
Capítulo V - Intento
Era nesse dia ou nunca. Depois de mais de seis meses de lenta preparação, Pedro não
agüentava mais a ansiedade: pode-se viver com desilusões, mas a dúvida mata. E Pedro decidira
que, naquela noite, ele esclareceria de uma vez por todas aquela história. Veria o órgão
genital da Sra. Martins.
Foi um longo jantar. Pedro, "seu" Martins e a mulher falavam sobre assuntos totalmente
alheios àquilo que ocupava noventa por cento da mente de Pedro, ou seja, a figura de uma
vagina luminosa, brilhando na escuridão. Talvez por isso a conversa tenha enveredado por temas
tão díspares, mas todos indiretamente ligados à obsessão que o devorava: a notícia que havia
saído na televisão sobre estranhas luzes vistas no céu; o brilho nos olhos dos jaguares quando
atacam sua presa; a bizarra cor azul do céu durante a aurora boreal.
Finalmente terminada a ceia, a Sra. Martins retirou os pratos e foi para a cozinha.
Pedro disse que ia ao banheiro e foi atrás.
Ela estava colocando os pratos na pia, levemente abaixada. Ele encostou a ereção, que
mantinha há vários minutos, entre as nádegas carnudas da Sra. Martins.
- Eu tenho o maior tesão por você. - ele disse. Não era uma frase lá muito imaginativa
mas, dadas as circunstâncias, não era necessário muito mais do que isso.
- Pedro... Que brincadeira é essa? - foi a previsível resposta.
- Brincadeira nenhuma. Você sabe que é verdade. - disse, e pressionou mais.
- Ai, seu Pedro, pára, eu sou uma mulher casada... - ela disse, mas ele pressionou
mais ainda a ereção contra as nádegas dela, colocou uma mão entre as coxas dela e com a outra
apalpou o seio esquerdo da mulher. Também lambeu o seu pescoço, para garantir.
- Me encontra na sala às onze - ela disse, num murmúrio.
Capítulo VI - Insânia
Se encontraram na hora marcada; ele tirou apressadamente as roupas dela, com uma
urgência quase visceral. De pé, algo constrangida ao ser tão minuciosamente observada, a Sra.
Martins estava finalmente nua à sua frente. Era chegado o momento da verdade.
- Apaga a luz. - Pedro pediu.
- Mas por quê...
- Apaga!
Ela apagou. Pela janela, entrava pouca claridade. Não era noite de lua, e as estrelas
estavam cobertas por espessas nuvens. Na casa, todas as luzes estavam apagadas. Nada brilhava
em lugar nenhum.
- Não brilha. Merda, não brilha! Ah, mas esse puto do Cláudio vai ver só...
A Sra. Martins, atônita, olhava pela janela.
- O que não brilha? Do que você está falando?
- Sua boceta. Sua boceta, porra! Deveria brilhar!
Depois de alguns segundos de silêncio e incompreensão, a Sra. Martins deixou escapar
uma longa e estrepitosa gargalhada. Ainda rindo, acendeu a luz.
- Qual é a graça? - perguntou Pedro, mal-humorado.
Ela não respondeu: foi até o armário. Abriu a porta, pegou um pequeno vidrinho, e
derramou o conteúdo entre as suas coxas carnudas. Brilhos e mais brilhos.
- Purpurina azul. - ela disse. - Seu amigo me conheceu no Carnaval. Estava muito
bêbado. - Depois de uma pausa, continuou: - Eu também.
Ela apagou a luz e então sim Pedro pôde ver, ainda que com uma luz extremamente
pálida, a vagina da Sra. Martins brilhando como um farol ao longe, muito longe, no meio do
nevoeiro, emitindo sinais em alto mar. De qualquer modo, foi o suficiente para que Pedro
pulasse sobre ela com um grito que poderia se definir como primevo, penetrando-a
violentamente, forçando a entrada do pênis ereto na vagina com ferozes estocadas, grunhindo
como um animal insano, não se importando com os gritos dela, fossem estes de prazer ou de dor.
Talvez fosse porque a decepção despertou nele uma fúria brutal que ele descarregou através do
sexo; talvez, ao contrário, porque a mera visão de uma vagina brilhando no escuro, ainda que
não do modo esperado, foi o suficiente para incitar seu desejo e fazer explodir a ansiedade
que ele carregara durante tantos meses. Não importam as razões: o fato é que Pedro fodeu
aquela mulher como jamais fodera mulher nenhuma em toda a sua vida. E foi bom.
Capítulo VII - Infinito
- Não entendo. O que ela tem assim de tão especial?
- Ora, ela tem a boceta fosforescente. - disse Pedro, com a naturalidade dos que
passaram por uma experiência que só pode parecer inacreditável a quem jamais a viveu. Roberto
começou a rir, mas parou ao ver que Pedro continuava sério. Mas não era uma piada?
- É difícil de acreditar, eu sei. - disse Pedro - Mas é verdade. É a pura verdade.
- Boceta fosforescente? - replicou Roberto, ainda incrédulo. - Qual é, está achando
que eu sou otário?
Pedro suspirou. Passaria por mentiroso, por mitômano, por delirante ou por bêbado, mas
jamais por imbecil.
- Roberto, vai por mim. Ela tem a boceta fosforescente. Brilha no escuro. Eu vi.
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