Por onde anda a cor e o brilho no grande circo que é o mundo pop?
 
 

Adriana Amaral
 
 

"(...)Those who find uglymeanings in beautiful things are corrupt without being charming. This is a fault. Those who find beautiful meanings in beautiful things are the cultivated. For these there is hope"

Oscar Wilde



Os 70 estão de volta, pelo menos nos editoriais de moda pra adolescentes e como tema de mais um NÃO. Fiquei por um tempo quebrando a cabeça, tentando achar algo sobre o que escrever dessa época. Foi então que comecei a questionar-me: será mesmo que tenho propriedade pra falar dos 70? Afinal, nasci em 75 e o que lembro daquela época são as fotos amareladas que estão no meu álbum de criança. Minha mãe usando pantalonas roxas num Uruguai sombrio, meu irmão com aquele cabelão longo desgrenhado à la Robert Plant e eu bem pequeninha (não que eu tenha crescido muito) com aquela indefectível blusa cacharel azul.

Mas eis que nessa semana estreou com um enorme atraso em Porto Alegre o filme Velvet Goldmine e após sair da sessão lembrei exatamente o que sempre me atraiu nessa década e o que acho que falta nesse princípio de 2000. Não vou comentar o roteiro do filme, nem a estória, nem nada, até porque achei ambos um pouco fracos. Poderia, isto sim, babar por linhas a fio sobre a beleza de Ewan McGregor e de Jonathan Rhys Meyer, mas pouparei os leitores de tais comentários beirando a histeria. Falarei sobre o fantástico visual dos 70, exagerado, contrastante, vibrante dos pés à cabeça. A transgressão da cor e da purpurina em contraste aquela "riponguice" toda da geração paz e amor. Abaixo aos cabelos sujismundos, às comunidades campestres e às florzinhas. Sim ao laquê, ao make-up, às noites iluminadas pelo lures e pelo tafetá. Como disse o pop star fictício do filme, Brian Slade (Jonathan Rhys Meyer): "o rock n’roll é uma prostituta, por isso temos de adorná-la".

O que falta nesse mundo pop de 2000 e que sobrava na década de 70 é brilho. Adoro a música do Nirvana, entretanto nesses tempos pós-grunge, não agüento mais assistir shows em que os caras da banda tocam com uma bermuda e uma camiseta, a mesma com qual vão comprar pão na esquina. Onde estão as capas de lamê? Cadê as botas de salto plataforma? Sinto falta da profusão de luzes coloridas, das cortinas de veludo e de tentar imaginar quantas horas foram gastas pra deixar o cara naquela produção. Não sei o que fizeram com a cor e procuro desesperadamente por quem as devolva para o seu habitat natural, o palco.

Eu sei que vão me criticar por falar isso, vão dizer que sou fútil, alienada, que não penso na mensagem e todo aquele blá blá blá comunistinha (no mau sentido) de quinta categoria que coloca a estética como um dos grandes inimigos da consciência de coletividade. Mas, ponho minha cara (ou melhor, meu texto) pra bater. Evidentemente que maquiada com gloss vermelho e uma sombra lilás.

Por outro lado, muitos podem alegar que temos na cultura clubber muita cor, ultraje e androgenia. Até aí, pode ser, mas acho que falta a eles a pose e o dandismo que se escondia por trás do glitter rock. Bowie, Gary Glitter, Roxy Music, Slade e, claro, Marc Bolan, entre tantos outros eram pomposos e chiques, apesar de tantas cores.

Bem, mas como não sou pessimista vejo algumas luzes cintilando no grande circo que é o mundo pop. Lenny Kravitz vestindo Tommy Hilfiger, o vocalista do Placebo com suas unhas e o delineador preto e Daniel Jonhs do Silverchair com um casaco de plumas prateado dando entrevista pra TV. Quem sabe os popstars não deixam suas roupas de molho no OMO e reapareçam um pouco mais brilhantes??? Quem sabe a grande puta que é o rock não dê um trato em seu rosto quarentão a fim de descolar um bom programa?