Que comemoração...
por Álvaro Magalhães 02/05/2000 06:10




Como cobrar da RBS – Joana Brasil - um comportamento crítico em relação à destruição de seu relógio, ou melhor, do relógio oficial dos 500 anos? Por que eles não classificariam com "vândalos" os que transformaram o "Globelógio" (Zé Simão) em Relógio de Fogo, já que "vândalos" é como também são rotulados os pichadores de monumentos? Apesar de não gostar, o governo federal fez um convênio com a Globo e o governo baiano para a festa dos 500 anos, o que deixou a campanha publicitária, o relógio e o show como oficiais. (Aliás, o começo do show de Brasília foi muito bom, destacando Elza Soares, Paralamas, Raimundos e grande orquestra).

Assim, o relógio era um monumento como outro qualquer e a RBS está cobrando de outras partes do convênio a conservação de parte do acervo oficial. A Brigada Militar respeitou a manifestação violenta dos populares, o que deixou a outra "repartição" (RBS) puta da cara. Bem feito. Diferentemente, o governo baiano usou a violência de sua força militar para monopolizar a comemoração ao destruir o monumento não oficial.O convênio estatal/global não permitiu que outros dessem um tom diferente do oficial na comemoração.

O que pode soar estranho é que o governo municipal de Porto Alegre foi co-responsável pela colocação do relógio em praça pública, inclusive com discurso do prefeito em exercício na cerimônia de inauguração do relógio. Aqui e agora não seriam outros 500? Que o governo Britto patrocinasse show do Pavarotti com o Rei Roberto Carlos em “parceria” com a RBS, vá lá, era a proposta dos caras. Pra Rede Globo também é coerente, já que eles parecem querer ser o que a Igreja era antes da proclamação da República, parte do Estado, do oficial. Mas como é que um governo que se diz contra a privatização do Estado concorda com esta privatização simbólica do que poderia ser público? (A propósito, quem inaugurará o novo anfiteatro público (parceria RBS-Prefeitura) à beira do Guaíba? Seria a Xuxa, o Faustão, o Galpão Crioulo, o Paulo Santana cantando com o Cauby Peixoto...???)

Como a festa dos 500 anos não incluiu pobres e dominados (como negros, índios, estudantes universitários, hip-hopers, etc), essa comemoração reafirmou características elitistas da nossa história. A festa ridícula, com sua caravela imóvel e banquete da ilha da fantasia com cachaça, o que colaborou com a comemoração, que foi ótima, convenhamos. (Comemoração no sentido de co-memorar, lembrar junto, é claro...) Ou alguém imaginou que agora vão ser mesmo outros 500?

Alvaro Magalhães
marisaon@uol.com.br
 

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