Pobres Inocentes
Jorge Furtado
No dia 24 de março FH esteve em Mossoró, Rio Grande do Norte, e foi vaiado por uma turma de "pobres inocentes", a definição é dele. Os pobres inocentes apitavam e vaiavam o novo salário mínimo. Sempre que encontra vozes discordantes FH revela seu caráter monárquico. Eleito sem um único debate com adversários, o príncipe só faz boa figura em estúdio, com maquiagem e telepronter. Orquídea de estufa não suporta vento. Irritado, FH diz o que realmente pensa: chama os pobres de pobres, os caipiras de caipiras, os aposentados de vagabundos, os adversários de bobos. E sutilmente lembra que, se quisesse, botava todo mundo na cadeia, só o que o impede é ser "um velho combatente da democracia". Os pobres inocentes em questão vaiavam e apitavam por vinte e nove reais a mais no fim do mês. O príncipe tentou fazer boas frases e sorriu, buscando o olhar de aprovação de seus companheiros de palanque, todos ricos culpados.
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Muita gente na imprensa, Paulo Santana, Eliane Cantanhede e outros, saudando a esperteza política de FH ao transferir aos estados a responsabilidade de estabelecer o salário mínimo. A proposta é um flagrante desrespeito a constituição brasileira que determina, artigo sétimo, que o mínimo seja nacionalmente unificado, mas isso é o de menos: FH, reeleito pelo suborno de deputados e pelo estelionato do real valendo um dólar, governando com três medidas provisórias por dia, está se lixando para a constituição que (risos) jurou cumprir. O problema é que a medida é totalmente inútil, puro jogo de cena, os governadores não podem aumentar o salário de fome dos milhares de aposentados que recebem do caixa de Brasília. O PT parece que vai insistir em 180 reais e pretende barrar o tal salário mínimo regional via justiça. Na provável hipótese de não conseguir, sugiro que apresente uma contraproposta: a regionalização do Banco Central, com cada estado podendo imprimir seu próprio dinheiro. E mais: Iberê Camargo na nota de 100 Pilas, Érico na de P$ 50, Elis na de 10, Getúlio na de 5, Lupiscínio na de 1. E o Mário Quintana nas moedinhas.
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A campanha municipal já começou em Zero Hora. Paulo Santana cede sua coluna de domingo a Cezar Bussato e Barrionuevo reproduz em manchete a camiseta que o candidato do PMDB traz na foto: Porto Alegre é de todos. E aproveita para informar, também em manchete, que o PPB gaúcho não tem nada a ver com o Maluf, que bom.
Sendo as alternativas o PMDB com Buzatto, o PDT com Collares e o PPB com ou sem Maluf, vou votar e fazer campanha para o candidato do PT, seja ele qual for. Não sou filiado e nunca dei palpites nas prévias do partido mas, como o Não 70 está sem polêmicas, resolvi fazer aqui esta bobagem e arrumar incomodação de graça. Os três candidatos, Tarso, Raul e Fortunatti, tem seus prós e seus contras.
Tarso é muito competente, inteligente, articulado, foi um ótimo prefeito e seria um ótimo governador ou presidente. Tem o apoio de muita gente boa, inclusive dos dois deputados em que votei na última eleição, Flávio Koutzi e Henrique Fontana. Tarso aparentemente garante uma vitória mais tranqüila, talvez no primeiro turno, e tem maior aceitação da mídia. Contra ele, o fato de ter maior aceitação da mídia e a suspeita de que mantenha a cultura do município sem alterações. Mas é pouco.
Raul também foi um ótimo prefeito e também tem o apoio de muita gente boa, inclusive de Olívio Dutra. A cidade já percebeu que sua aparente casmurrice, como a de Olívio, é só firmeza de princípios. Como diz Arnaldo Antunes, "nós não sorrimos à toa". Contra, o fato de ser prefeito. Sou, como o PT já foi, contra a reeleição. Acho que o fato do candidato estar no cargo interfere decisivamente no processo eleitoral. Reeleição pode funcionar bem em Paris, em Nova Iorque ou em tese, lugares muito distantes daqui.
Fortunatti foi um grande, sem brincadeiras, deputado federal, com a ajuda do meu voto, acho que em 94. A tradição do PT de fazer do vice o próximo candidato tem dado certo, garante a alternância das tendências no poder e prepara o futuro prefeito. Fortunatti sempre esteve envolvido com a cultura, participou de vários projetos importantes no congresso. Seria um ótimo prefeito. Contra? Nada contra.
Avanti Fortunatti!