HUMILHAÇÃO, O JOGO

 

Jorge Furtado

 

Humilhação é um tradicional jogo de salão, instrutivo, divertido e revelador, para ser jogado entre amigos, na sua versão Humilhação Clássico, ou conhecidos, na versão Humilhação Light. Dependendo da instabilidade emocional ou do estado de embriaguez dos participantes Humilhação pode virar psicoterapia de grupo, cuidado. Humilhação Clássico não é recomendado para casais recentes ou em crise, pode acabar em briga.

 

Material necessário:

Uma caneta e papel, para anotar os pontos.

 

Número de jogadores:

Mínimo de três, máximo que couber na sala. (Ou no carro. Humilhação viaja bem, mas alguém tem que anotar os pontos e o motorista deve ficar sóbrio.)

 

Objetivo:

Fazer mais pontos que os outros e ganhar o jogo.

 

Como se joga:

O Jogador 1 diz uma coisa que nunca fez. Os outros participantes, na ordem da roda, dizem se já fizeram aquilo ou não.

 

Da coisa:

No Humilhação Clássico vale tudo. No Humilhação Light só vale filme (que nunca viu), livro (que nunca leu), disco (você já entendeu), programas de televisão, peça de teatro, histórias em quadrinho, comida e lugar.

 

Da pontuação:

Para cada participante que confessar já ter feito aquilo, o Jogador 1 ganha um ponto. Se todos na roda já tiverem feito aquilo o Jogador 1 dobra os pontos da rodada. Entenderam?

 

Exemplo. Numa roda de seis jogadores o Jogador 1 diz: "Nunca vi Blade Runner". Cada um dos outros cinco diz se já viu o filme ou não. Cada um que já viu vale um ponto para o Jogador 1.

 

Se todos viram o filme o Jogador 1 tem uma Humilhação Total e faz 10 pontos, 5 por participante e o dobro de bônus.

 

Se nenhum outro jogador viu o filme o Jogador 1 perde todos os pontos, de todas as rodadas. (A punição é grave mas se justifica para evitar que alguém use o jogo para dar uma, tipo "Nunca li Púchkin".)

 

Da Falsa Humilhação:

A pontuação depende exclusivamente da sinceridade dos participantes o que, convenhamos, é um perigo. Qualquer Falsa Humilhação é punida com a perda dos pontos da rodada. Exemplo: numa rodada de Humilhação Clássico o Jogador 2 diz "Nunca comi uma atriz". Outro jogador lembra: "E a Vica?" Estabelece-se a discussão. ("Não comi, comeu que ela me contou, não é atriz é modelo, já fez publicidade, mas não tinha fala", estas coisas.) Depois de um período de discussão que pode levar de 3 minutos a 4 dias, o plenário estabelece por votação direta se a Humilhação vale ou não. Se não valer, o Jogador 2 perde a vez e os pontos da rodada.

 

Do Falso Testemunho:

O Falso Testemunho também é punido com perda de pontos. Para impedir que alguém tenha uma Humilhação Total numa rodada algum dos participantes pode mentir, por exemplo, que ele também não conhece a Bahia ou nunca bebeu Campari. O processo de julgamento do ponto é o mesmo, no grito. O Falso Testemunho é punido com a perda de pontos equivalentes aos ganhos pelo jogador da vez.

É claro que quanto mais se sabe da vida pregressa dos outros jogadores melhor o seu desempenho no jogo. Alguns exemplos que já utilizei, com boa pontuação, em rodas variadas:

. Não conheço as Missões.

. Não vi o Bob Dylan no Opinião, nem o João Gilberto no Araújo.

. Nunca tomei ácido.

. Nunca ouvi, que eu saiba, uma música do Oasis ou do Nirvana.

. Não vi Betty Blue.

. Nunca comi mocotó.

 

Da duração:

Humilhação termina:

a) na primeira briga com choro;

b) na primeira referência à mãe de algum participante nos debates;

c) na primeira vez que algum cônjuge utilizar o nome completo do outro; ("Em casa a gente fala sobre isso, Luiz Henrique.")

d) quando o plenário decidir que chega.

Vence quem tiver a maior pontuação, desde que os participantes tenham jogado um número igual de rodadas. E o fato de uma pessoa ter dado uma fala num comercial não faz dela uma atriz. Mas em casa a gente fala sobre isso.