Creme de la Creme

 

Lulit

 

1- Parque aquático- ext/manhã- Às segundas-feiras, os parques aquáticos são bem vazios. Ainda mais com o dia variando do semi-nublado pro totalmente nublado. Mesmo assim, tinham uns 15 mortais e uns 10 argentinos na platéia. Tentei não chamar atenção. Fui no toboágua grande, só adolescentes, não berrei. Na minha infância só tinha tobogã. Agora tem toda esta água! Tenho que aproveitar ao máximo. Tá muito bom... Resolvi descer a rampa. Um imenso escorregador amarelo. Coragem mulher, que não é tão íngreme como parece. Até criança de dez anos tá indo. Vou, não vou, vou. Só não vi a ilustração da postura de descida: Uma pessoinha com braços e pernas cruzadas. Fui de peito aberto, braços abertos e ninguém pra dizer : "Fecha as pernas, coração!" Além do meu grito ser ouvido na BR, acordado os hermanos, me tornei uma pipa d´água no baixo ventre. Com a velocidade absurda da descida, entrou muita água pelos meus dois orifícios. Pelo da frente, a água saiu rápida, dentro da piscina mesmo, como se fosse uma fonte. Mas pelo de trás foi complicado. Cadê o banheiro, meu Deus? Atravessei duas pontes correndo, pulei por cima de imensas bóias coloridas, lava-pés, argentinos, brasileiros, funcionários e cheguei, finalmente, no paraíso!

2- Estrada- ext/tarde- Fui buscar minha amiga berlinense e sua filha no mercado de Floripa. Depois de nos abastecermos de champanhe e comida boa, para celebrar nosso reencontro, caímos na estrada. Conversa animada afogando maguaris, trip hop, nenhum engarrafamento, criança dormindo. Entramos na estrada secundária. Mais quinze minutos e estaríamos na beira da praia, tudo azul na... PLOF!PLOF! , desaba um objeto não identificado no nosso pára-brisa. De repente, vivenciamos os 15 minutos mais fedorentos de nossa existência. Um urubu (só comendo carniça para produzir algo que cheire tão mal) ou uma águia? teve a coragem de sobrevoar o carro e despejar uma coisa que mais parecia uma placenta plastificada fétida e flácida no nosso vidro. Não paramos o carro, pois não havia água para lavagem e o troço grudou feito cola na entrada do ar-condicionado. O material era do tamanho de uma ratazana e tinha até rabo. Chegando em casa, consegui, a muito custo, tirar o grude com jornal e mangueiradas. E vai champanhe pra destraumatizar. E se tivesse sido nas nossas cabeças?

3- Carnaval- int/entardecer- No ano passado, eu já tinha chegado a conclusão que com pagode, aché, sertaneja e não sei mais que porra tão inventando, o carnaval de salão tinha acabado. Mesmo assim, 2000, fui levar duas crianças num baile infantil de clube porto-alegrense, na esperança de me divertir um pouco. Mas qual não foi nossa surpresa, quando ao entrar no salão, tudo estava tomado de uma espuma branca, nojenta e deslizante. De um spray para cada dez foliões de 99 , a coisa se transformou em dez sprays por folião em 00. Nos primeiros cinco minutos dos trinta que permanecemos neste inferno, ficamos completamente envolvidas pela espuma, que também era despejada por enormes tubos vindos do teto. Confetes e serpentinas desapareciam na plasta. As crianças tomavam refri com espuma e comiam batata-frita com espuma. Alguém me dá um lança-perfume, por favor. O fotógrafo da festa teve sua máquina embebida na química branca. Se a câmera fosse a minha, eu teria estrangulado o piá que acabou com sua bisnaga no carinha. O palco onde a banda tocavam era cheio de crianças e dançarinas espumantes. O guitarrista teve que parar de tocar porque as cordas estavam cobertas de espuma e dando choque. O cantor foi reclamar para não jogarem espuma no guitarrista e teve seus dentes imediatamente cobertos pelo creme nojento. Bem-feito! Quem manda não cantar "Quanto riso, o quanta ...", "Alalaô, aí que calor..." ou "Todos eles estão errados...".