Onde estão os compositores do rock nacional?
por Paola Oliveira (*)

Parece um pesadelo divertido o que está acontecendo com o pop-rock nacional. Algumas bandas brasileiras que fizeram a alegria dos anos 80, com um discurso de esquerda, quebrando tabus e "chutando o balde", hoje juntam-se a grande máquina fonográfica para fazerem parte dos Top 10. Um exemplo são os Titãs, depois de gravarem "Cabeça de Dinossauro" (86), um disco conceitual, pesado e escroto, e outros bons discos, vêm apresentar no final dos anos 90, "As Dez Mais"- um disco póstumo, pois deixa claro a morte da banda maldita dos anos 80. Faz disco de versões na linha acústico.

Arnaldo Antunes parecia ver o futuro, saiu de "fininho" e manteve salva sua alma de grande compositor e artista. Os Titãs se submetem a programas grotescos de auditório, como o do apresentador Fábio Junior da Record. São personalidades apenas... Daqui a pouco estão no "topa tudo por dinheiro" da SBT.

A arte e a criação devem estar livres para poderem mudar a ordem vigente. Vejamos agora o Barão Vermelho, depois da saída do Cazuza, fizeram razoáveis discos, mas seus shows se resumem atualmente aos hits e a canções de Raul, Tim Maia e Legião Urbana - esta última então lembrada por todas as bandas , oitentonas ou pop-rock brasileiras, em seu set list.

Não há nada contra , muito pelo contrario, mas quando se fala em uma banda nacional, com prestígio, seu set list deve ter mais composições próprias do que ficar repetindo o que já foi feito. Precisamos de compositores e temos grandes poetas neste país.

O Ira! também não se salva. Toca algumas composições e o resto são de outros artistas e bandas. O grande mérito da banda paulista é que ainda faz barulho, tem um bom guitarrista e gostam de compositores gaúchos como Wander Wildner e Júpiter Apple, mas o resto é covers ou versões, apesar da influência eletrônica.

A culpa não são delas, mas de um mercado que super valorizou as bandas covers - que fazem a festa da galera e tiraram o lugar dessas. É claro que o tempo passa, as pessoas se acomodam, a vida mostra outra face da história; ser anarquista e conceitual depende muito do momento, da idade, da maneira de ver o mundo e da consciência do que é arte. Ganhar dinheiro com arte é difícil, não posso negar, mas fazer música em série, repetindo aquilo que já faz parte da memória musical do povo brasileiro é bem mais fácil e cômodo.

Que viva Tom Zé - esquecido quase 20 anos pela mídia e público, parabéns ao Arnaldo Antunes , Jupiter Maçã e/ou Apple, Wander Wildner, Frank Jorge, Otto, Plato Divorak, e tantos outros exemplos de grandes compositores que mantêm viva a criação literária-musical.. E, não se esqueçam de Chico Science - o garoto "mangue beat" universal.

O cenário rock nacional precisa urgentemente de compositores, de uma nova estética de uma mudança verdadeira....os anos 80 foram um marco, os 90 deixaram a desejar e chegamos ao ano 2000 sem idéias, sem novidades e mudanças verdadeiras.


* Jornalista e produtora
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