Em Busca da Centralidade Perdida
Por Álvaro Magalhães
O Festival (da Globo) de Música Brasileira foi buscar em velhas e novas vanguardas uma centralidade que a canção popular já teve. Depois da primeira eliminatória, arrisco o seguinte palpite: mesmo que haja boas canções neste festival, como duas ou três que ouvi, a MPB não recuperará o lugar que já teve no imaginário brasileiro. Nem mesmo que a seleção fosse menos paulista, mesmo que incorporasse as várias músicas feitas por jovens (rap, rock/pop, etc), ou expressões regionais, como a MPGaúcha. (Brincando com o título de um recente seminário sobre MPB, a canção popular brasileira cansou, não tem mais o alcance que teve. Apesar de que 75% do mercado de música nacional ser ocupado por produção local, proporção inédita.)
No passado também houve festivais de cinema brasileiro, especialmente um, que por ficar em Gramado estimulou os magros e os magríssimos. Certame que, além de promover o que havia sido feito procurava construiu sentidos da e para a nossa vida (brasileira). Mas isso parece não Ter mais sentido. Tô até com medo de assistir ao filme estrelado pela Regina Casé, porque parece que para falar da nossa vida tem que apelar para apelar para os feios, sujos e malvados do meio rural, com a trilha sonora do folclore nordestino (como nó ótimo Central do Brasil ou como em documentários da GNT.)
Há diferenças marcantes entre a situação do cinema e da música popular brasileiros. Nesta, há um esquema de produção e distribuição fortíssimo, com corrupção instituicionalizada (jabá) e tudo. No caso do cinema, todos os festivais e linhas de financiamento para produção e distribuição são facilmente justificáveis, já que todos queremos viver num lugar que faz coisas civilizadas como cinema. (Prova disso é que até tem espaço justificativa canalhas de corrupção.)
Nos dois casos, porém, o que é feito carece de referências para o julgamento do que é exposto que não estão em cada expressão artística. Não é que não se tenha profissionais que produzem opinião sobre cinema ou música que não saibam reconhecer o que está bem feito do resto. No meio musical, por exemplo, se reconhece o trabalho como o do Núcleo Contemporâneo de São Paulo, por exemplo, oportunamente projetado pelo Festival da Globo. Porém, cadê o velho espaço de construção da vida civilizada (espaço que é nacional), nas suas várias expressões? Será que precisamos mesmo dele, ou quem precisa dele são expressões culturais "velhas", como o cinema e a MPB?
(Resposta preventiva 1: (Para o gauchistas chauvinistas): a coisa não melhoraria se o Festival da Globo fosse menos paulista ou se o cenário da pobreza rural dos filmes de ficção ou documentários fosse o da nossa metade sul com um taura cantando Merceditas, Prenda Minha ou Querência Amada. Mesmo sendo interpretado pelo Zé Adão Barbosa, como foi na novela das 8.)