Jorge
Por Emiliano Trierveiller
O fato é que ele ia ter que comer puto de novo. O preto retinto ainda batia no peito, não queria acreditar. Mas já era fim de festa e só tinha bicha para ele pegar. Logo ele, o Preto Jorge, o Jorge Brilho, e batia no peito.
Uns tempos atrás, quanta diferença. O Nego Jorge passava, roçava numa branquela e levava pra casa, sempre na dela. Depois voltava pra festa, essas de branco filhinho de papai, e ainda pegava outra. Às vezes uma brincava no meio das pernas dele que nem criança, fazia carinho até. Mas depois veio as patroas. Umas ricas, umas meio gordas. Atrás do Jorjão, que por essa época já mostrava o pau por uns trocados. Mas só para bicha rica, de respeito. Não sou prostituto dizia o Jorge Dois. Não era. Fazia por gosto, mesmo a contragosto. E hoje era aquele negócio, quem queria o Preto eram uns frangotes. Tudo bonitinho, limpinho, cheirando a leite ainda. Só podiam mesmo querer o Preto Onça. Forte, peito duro e sorriso branco, tava com tudo. Sem problema, era tudo guri direito. Aquela bebida de branco na cabeça do preto é que às vezes fazia ele se revoltar. Mas já tava bem, e quando percebeu tava num carro novo, indo pra não sei onde. Parou e saiu junto com o menino, que devia ter uns vinte anos menos que ele. Gostava de chamar ele de menino.
- Menino, vem cá...
- Tá bom.
- Quer começar?
- Deixa eu ver primeiro.
- Tá.
- Agora pode vir...ai!
- Que foi?
- Nada, continua.
- Tá...eu vou cuidar de ti.
Abraçava o menino pra acalmar. Quando fica nervoso é pior, fica apertado e dói mais. Mas foi rápido.
- Tu quer uma carona?
- Não, vou a pé que aqui todo mundo me conhece.
- É?
- Jorge da Tinta, meus cumprimentos - com um sorriso no rosto.
E saiu pelo descampado, de peito pra frente e com uma música na cabeça. Tinha se apegado ao menino. Viu que o guri lhe tinha respeito.