Histórias do Velhinho da Padaria
Por Gustavo Franco
Hoje vamos dedicar estas linhas a um personagem tão bem incorporado à vida contemporânea que mal se nota a sua existência, por mais próxima que esteja de nós. Tal figura não poderia ser outra senão o simpático velhinho da padaria. Sim, ele mesmo! Aquele que está sempre sentado no balcão, saboreando uma rosquinha ou um sanduíche de mortadela (pois diz que ainda não surgiu iguaria mais saborosa), bebendo seu café com leite e tecendo comentários a respeito de tudo que lhe vem à cabeça, para quem estiver ouvindo, ou mesmo se não houver ninguém escutando. Nenhum assunto lhe escapa, desde a Bósnia (onde viveu um grande amigo seu da adolescência) até o esporte nacional (que saudades da bola de capotão...). Sua idade é desconhecida. Varia conforme seus relatos. Sim, porque o velhinho da padaria não é apenas um mero cronista das massas, mas também um grande historiador. Não há sequer um único fato marcante de que não se recorde, já que ele mesmo ou algum conhecido esteve no lugar quando aconteceu. Não importa que o evento tenha ocorrido há mais de um século. Os antepassados do nosso herói lá estavam para registrar os detalhes mais imperceptíveis, sem deixar furos nem contradições. Nada escapa aos olhos e ouvidos da gloriosa dinastia dos velhinhos da padaria.
Vocês já devem ter notado, provavelmente, que não se sabe ao certo o verdadeiro nome do guru das panificadoras. Alguns o chamam de "seu Valdir", outros de "Zé", mas ninguém tem certeza, talvez nem ele próprio. De todo modo, independente de seu prenome, o velhinho da padaria dá atenção a todos, pois se julga na missão de revelar às pessoas o que realmente aconteceu nesse ou naquele fato, polêmico ou incontroverso. Afinal, ele está desvinculado de ideologias ou quaisquer outras tendências. Não é de esquerda, direita, centro e muito menos em cima do muro. Sua imparcialidade o torna a fonte mais confiável, incorruptível e verossímil a que se pode recorrer, mesmo (ou principalmente) na era da INTERNET. Mais que a CIA e a Contigo, o velhinho da padaria sabe de todos os conchavos, tramóias, arranjos e desarranjos do cenário nacional e internacional. É incrível como nunca foi vítima de atentados terroristas ou de qualquer outra poderosa organização. Talvez porque não haja munição suficiente para matar todos os velhinhos de padaria do planeta. A sorte dessas pessoas é que, infelizmente, a maior parte da opinião pública não dá ouvidos ao mestre, desprezando sua infinita sabedoria. Mas haverá um dia em que o velhinho da padaria será cultuado não apenas por este cronista, mas por toda a humanidade. Nesse momento, todos darão as mãos em plena harmonia, e o mundo voltará a ser como foi na sua criação. E o velhinho sabe disso, porque esteve lá!