CANÇÕES NA MINHA CABEÇA I I
PLANÍCIE DESERTA
por Peter S. Krause
"Saí caminhando com uma bíblia e uma arma". É, saiu mesmo. Os olhos frescos ao vento frio, horizonte ao fundo. O grito dele foi claro e iluminou uma cidade inteira. Na cidade calaram-se as sombras e ecoaram as casas. "Saí caminhando com uma bíblia e uma arma". Espingarda em punho. Cavalo bufando uma luz azul. A planície abaixo ocupada por ventos verdes e vermelhos que corriam entre os cactos.
As crianças de areia zuniram e se perderam por detrás de coxilhas imaginárias. Ele ainda observava do alto do cânion, Winchester carregada, cabelos eriçados à brisa iônica. A porta do bar foi aberta às onze horas da manhã e ao entardecer todos os ingleses e irlandeses já estavam muito amigos, abraçados, "eu te amo, cara".
Dentro da igreja, os garotos olhavam pornografia e os homens faziam negócios. "Essa coisa de salvação é muito bonita mas não põe dinheiro no banco". "E dinheiro no banco é mais importante que comida na mesa".
O cavalo e o cavaleiro entraram pela rua central com fogo saindo das ventas. "Saí caminhando com uma bíblia e uma arma". Dois tiros deu. O grito e o tiros iluminaram a cidade que depois deitou-se novamente na escuridão. O cavaleiro olhou, olhou furioso. Então um menino veio, olhou-o frio. Fitaram-se. O cavaleiro sorriu. O menino sorriu.
E o sorriso do menino iluminou o mundo inteiro. O cavaleiro voltou para casa, voltou para você.