Lançada a nova Mind Cam

Aparelho gera imagens diretamente da nossa mente para a Internet em tempo real

por Eduardo Fernandes

eduf@uol.com.br

Roundly Capon, EUA, 19/12/2000 – O Educhamp’s Institute of Technology acaba de divulgar um novo aparelho de transmissão de imagens pela Internet que promete causar polêmica. É a Mind Cam, que pretende substituir as atuais Web Cams.

Trata-se de um microchip, cercado de vários micro-eletrodos, que captam os impulsos cerebrais do seu usuário. Uma vez codificadas, as ondas cerebrais podem ser convertidas em imagens ou texto. E depois serem lidas por qualquer browser, como Netscape ou Internet Explorer.

Segundo o chefe da equipe que idealizou a Mind Cam, professor Phill Espectator, este aparelho veio para questionar todas as noções de privacidade. E resolver problemas éticos como o da sinceridade, mentira, entre outros.

Espectator falou sobre estes e outros assuntos, em entrevista exclusiva para o Não.

Não – As web cams viraram uma febre na Internet. Muitas pessoas começaram a filmar detalhes de suas vidas que até há pouco eram restritos. Passaram a ter quase todos seus atos vigiados, recebem e-mails dando palpites sobre suas atitudes mais íntimas. O senhor não acha que a Mind Cam pode aprofundar essa vigilância?

Prof. Espectator – Ela foi construída para isso. O objetivo é captar os pensamentos que até mesmo a pessoa esconde de si mesma. Queremos superar a idéia de Freud de que há pensamentos quase impenetráveis, os quais não podemos apreender, nem compreender com clareza.

Não – E a questão da privacidade? Podemos viver com pessoas nos vigiando o tempo todo?

Prof. Espectator – Por que não? Antigamente as pessoas temiam essa vigilância. Lembre-se de George Orwell, do "grande irmão". Era época das grandes ditaduras. Natural que tivéssemos medo. Hoje estamos no mundo da liberdade. As pessoas querem ser vigiadas. Elas pagam para isso. O que a Mind Cam oferece é uma maior eficiência, um revolucionário avanço na técnica de confessar e de vigiar.

O que os intelectuais reclamam é o fato de que eles perderam a exclusividade do ato de vigiar. Por que a ciência pode dissecar, vigiar, criar situações para testar suas teorias e eu, consumidor, não posso fazer isso comigo mesmo e com outras pessoas?

Dizem que é porque a ciência cuidaria de um suposto "bem comum". Pois nós defendemos o bem individual.

Veja por exemplo a literatura. James Joyce pode investigar e expor as confusões que ocorrem na mente de uma pessoa durante um só dia. Por que eu não posso? Por que Dostoievski pode devassar a intimidade de um Raskolnikov e eu não posso?

A resposta é simples: porque eles são a elite, os sofisticados, os representantes da alta cultura. Tal como a ciência. É um problema político, entendeu?

A Mind Cam vai democratizar a vigilância. Ninguém vai mais precisar ler oitocentas, mil páginas para entender a mente de alguém. Muito menos pagar para ir ao cinema, ver a vida dos outros. Qualquer pessoa poderá ser um Proust, um Bergman. E isso os intelectuais não admitem.

Não – Você não acha isso tudo muito perigoso?

Prof. Espectator – Perigoso por que? Que tipo de pensamentos você tem? Geralmente pensamos em coisas tão triviais que não haveria problema algum se nos vigiassem.

Não – E no caso de, por exemplo, um marido trair a mulher? Ela poderia acessar sua mente e descobrir tudo.

Prof. Espectator – Melhor ainda. Isso causaria um avanço significativo para a humanidade. Todos seríamos mais sinceros. Seríamos forçados a dizer a verdade sobre as coisas. Haveria mais paz, união. As empresas saberiam melhor como atender aos seus clientes e vender seus produtos. Não haveria mais necessidade da moral e, conseqüentemente, da hipocrisia.

No caso do marido que trai sua mulher, o casal poderia conversar e chegar a um acordo. Uma vez que ambos estariam informados sobre todos os seus desejos e frustrações mais profundas.

Não – Teríamos de ter um preparo intelectual e psicológico fortíssimo para suportar certas "revelações" e certas manifestações de sinceridade.

Prof. Espectator – Isso mesmo. Acabou a era da infantilidade. Seremos todos realmente adultos e responsáveis pelos nossos atos e escolhas.

Quanto ao preparo psicológico, isto é com o pessoal da farmacologia. Brevemente, poderemos controlar todas as nossas emoções com remédios.

Não – Isso não é meio paranóico?

Prof. Espectator – Paranóia foi quando nós quisemos saber o que é "verdade", como e por que as coisas acontecem. E isso foi há milhões de anos. Todo resto foi conseqüência.

Se me permite uma piada, talvez o Deus do mito de Adão e Eva estivesse certo. Ou talvez tenha sido a árvore do conhecimento que nos comeu. E nós estamos sendo digeridos até hoje. Talvez ela ainda nos cuspa, pois somos altamente indigestos. Quem poderá saber?

Não – Quando a Mind Cam começa a ser comercializada?

Prof. Espectator – Provavelmente em 2002. Estamos fechando cotas publicitárias com a América On Line, com a Microsoft e com o Citybank.

Provavelmente todas as pessoas que usarem uma Mind Cam receberão informativos, banners e mensagens subliminares diretamente em suas mentes.

Pode ser que pensar fique um pouco lento. Mas estamos trabalhando para corrigir este problema.

Não – O que o senhor pensa desses grupos ecologistas que estão criticando a Mind Cam?

Prof. Espectator – São reacionários. E agem de maneira ridícula. Você já viu o símbolo de um dos grupos? Aqueles monitores antigos, de fósforo, com aquelas estranhas telas verdes. Como podemos levar esse tipo de gente a sério?

Não – Qual a mensagem que o senhor deixaria para os nossos leitores?

Prof. Espectator – Breve estaremos na sua mente!

(Eduardo Fernandes viajou a convite do Educhamp’s Institute of Technology)