PEQUENOS PASSATEMPOS POÉTICOS
por Normando Müller
1. Tempo
Poemas só pra passar o tempo
São os únicos que resistem ao tempo
Pois depois que o tempo passa
Eles não precisam resistir a mais nada
Esfumam-se no ar
E o tempo não pode tocá-los
2. É gol
Eu vi a cabeça de um homem na janela
Pronta para ser guilhotinada (que morte bela!)
E rolar na calçada, até ser chutada
Pelo moleque, ruim de bola, que dá de canela
E, mesmo assim
É gol!
3. Autógrafos
As meninas pediram um autógrafo
Eu dei
Elas poderiam pedir muito mais:
Uma breve explicação sobre o sentido da vida
Eu daria (ou pelo menos tentaria)
Uma resposta a uma difícil questão da prova de filosofia
Eu daria (e provavelmente erraria)
Uma lição rápida de como se ama
Eu daria (e, com toda a certeza, no final choraria)
É, foi melhor escrever logo "Um beijo do..."
E dar apenas o que foi pedido
4. Vem descansar comigo
Vem não fazer nada, só deitar ao meu lado
Que hoje até o sexo é demais
Mas vem com a alma lavada
Deixa teus badulaques na gaveta do banheiro
Traz só o modess, se estiveres menstruada
E olha pra cima junto comigo
Depois fecha os olhos, não olha mais nada
A grama está crescendo de qualquer jeito
Não precisa ser molhada
Vem descansar comigo
Agora sou apenas teu amigo
Mas poderei ser teu amante
Depois de um bom descanso contigo
Provavelmente virá um desejo galopante
5. A camiseta do meu time
Boto a camiseta do meu time
Mesmo que ele tenha perdido
Pois "fez dois gols fora"
(Esses regulamentos modernos
são ótimos para nossos queridos patrocinadores)
6. Novelle Saint-Tropez
A calça da adolescente está no último limite possível
Mais um centímetro, aflora a bunda, vê-se o rego
E por isso a menina se analisa cuidadosamente
Mexe no cinto, ajustando-o milimetricamente
Eu sei, eu sinto (ela me convence!)
A bunda que está ali, no momento, é indisponível
Mas o futuro a Deus pertence
7. Foda com Deus
Eu queria foder com Deus
Penetrar e ser penetrado pelo Divino Corpo
Mas, devido à sua ausência momentânea
Foderei com essa putinha mesmo
8. O último
O último é só pra fechar a conta
Do ano que se acaba
Do Não que desaba
Da espera no meio da escada
Que não leva a nada
Ou não