ITENS ENVIADOS(6)

por Giba Assis Brasil


 


para Caroline Chang 25/02/2001

Ang Lee é um cineasta absolutamente ocidentalizado, e cujo cinema me interessa muito pouco. Zhang Yimou, sim, me parece "chinês da cabeça aos pés" (seja lá o que for isso) e é o grande responsável por uma das três cinematografias mais importantes da última década (ao lado dos dinamarqueses e dos iranianos, é claro). Ainda não vi este "Caminho para casa" (é este mesmo o nome?), mas os 4 ou 5 filmes do Yimou que eu já vi me pareceram um melhor que o outro. "Lanternas vermelhas", particularmente, é uma obra-prima de delicadeza ao contar uma história de amor, submissão feminina, revolta, limites sociais e culturais, incomunicabilidade, solidariedades possíveis - enfim, estes tais sentimentos humanos em busca dos quais a gente vai ao cinema.
 

para André Czarnobai 04/03/2001

"Terrorismo poético"? Acho que eu fiz coisa parecida com isso, lá por 79, 80... Nunca tive coragem de pichar muro (a não ser uma única vez, mas isso é outro assunto), até porque na época a polícia não perdia tempo antes de bater em alnguém. Mas o que eu fazia era, por exemplo, escrever frases estranhas em notas de um cruzeiro, minha preferida era ABAIXO A FELICIDADE. Ou então deixar recados extremamente complicados, cheios de alusões a personagens sem nome, embaixo de portas de apartamentos, ou sobre bancos de ônibus, etc. Minha grande frustração é que era uma coisa completamente individual, meus amigos nunca levaram a sério essas bobagens. Talvez por isso, cheguei a escrever o argumento de um filme (super-8?), que nunca chegaria sequer a ser um roteiro, sobre uma tribo de gente que fazia disso o seu modo de vida, o filme se chamaria (adivinha?) "Abaixo a felicidade".
 

para Luiz Roque Filho 05/03/2001

Sinceramente, lógica de premiação foge às minhas possibilidades de raciocínio. Faz tempo que desisiti de entender. O que eu sei é o seguinte: (1) os júris são sempre injustos, às vezes a nosso favor, às vezes contra nós; (2) ser membro de júri é muito difícil, por isso não mudo o meu julgamento a respeito das pessoas que fazem parte de júris em função de como elas julgam; (3) ganhar prêmio é bom porque ajuda a divulgar o filme (e eventualmente o prêmio ainda vem junto com uma grana que ajuda a pagar as contas) - só por isso. O resto, sinceramente, não vem ao caso. Já faz mais de dez anos que eu não tenho paciência pra assistir a cerimônia do Oscar.
 

para Alexandra Marchi 22/03/2001

Tenho a impressão de que, a esta altura, já dá pra concluir que o impacto total das Leis de Incentivo sobre a economia da cultura do país é negativo: eventos que já existiam há anos tornaram-se dependentes dos mecanismos de aprovação e captação; surgiram novos megaeventos caros e de muito impacto na mídia mas com pouco significado cultural; grandes corporações auto-aplicaram recursos na construção de centros culturais privados com pouco ou nenhum acesso para o grande público; alguns produtores culturais conseguiram realizar os seus projetos na base do compadrio, graças a relações pessoais com empresários; a mídia passou a ser o maior item dos orçamentos da cultura; o custo médio dos produtos culturais aumentou muito, sem que a renda média dos trabalhadores da cultura tenha subido na mesma proporção; nunca se gastou tanto dinheiro público em cultura, sem controle público sobre a seleção de projetos e mesmo sobre a real aplicação dos recursos; mas, por outro lado, um grupo de "intermediários da cultura" surgiu, cresceu, ganhou muito dinheiro, tomou consciência de classe e passou a ter a sua reivindicação: manter e ampliar as leis de incentivo, (como sempre) mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está.
 

para João Antônio Porto 24/03/2001

[O tempo] voa mesmo. E pensar que "bamerindos" já foi uma gíria, ou uma engrolação, que significava "vamos indo", mais ou menos na mesma época em que se dizia "wimwenders e aprendenders" ou (como dizia uma amiga minha, antes do Bill Gates) "como a dizia a janela, estou window". E pensar que já houve um tempo antes do Bill Gates. Em que se começava frases sobre o passado com "e pensar que..." Bons tempos? Sei lá eu! Sabe lá tu?
 

para Joycinara Moreira 28/03/2001

Não, não falo alemão, mesmo porque "Was ist" não chega a ser uma prova de proficiência lingüística. Mas estudei a língua de Goethe e Kafka (ou pelo menos o que eu achava que podia vir a ser isso), na terceira e quarta série do ginásio, exatamente no período 1971-72, ou seja, já lá se vão 30 anos. Mas digamos que na única vez em que o meu alemão foi posto à prova, fevereiro de 1990, ainda tinha muro em Berlim, a gente tava indo visitar o lado oriental e um de nós estava sem passaporte, o policial antipático não queria nem discutir o assunto, mas eu até que consegui me fazer entender, foi algo como "Wir sind sechs brazilianischen, und wir sind alle zusammen", etc. Nem eu imaginava que seria capaz de dizer aquilo, mas saiu, e o grupo chegou inteiro do outro lado (e, depois, inteiro de volta).
 

para Everton Silva 06/04/2001

[Desde que "Deu pra ti anos 70" foi feito,] o mundo ficou bem diferente, mas o nosso país nem tanto (a grande novidade é o Antônio Carlos Magalhães na oposição, mas será que isso dura mais de um mês?). As pessoas hoje podem ter perspectivas de vida diferentes, as profissões que a maioria delas vai seguir eram completamente diferentes ou nem existiam 20 anos atrás. Mas a verdade é que os jovens continuam tendo que descobrir o mundo por conta própria, porque ninguém vai fazer isso por eles. E DEU PRA TI ANOS 70 é sobre isso: sobre gente mais moça descobrindo o mundo que gente mais velha ajudou a criar e a deixar assim, doente, errado, desigual, injusto. A gente sempre acredita que pode transformar o mundo, e muitas vezes isso é possível. Mas, antes disso, a gente mesmo se transforma. Faz parte.
 

para Imara Reis 11/04/2001

Tenho dúvidas sobre a tua dialética paranóica, segundo a qual a má qualidade das linhas analógicas é obsolescência programada. Mas eu tenho as minhas próprias paranóias: vou morrer sustentando que esse negócio de trocar o modelo do processador de texto a cada 6 meses é ruim pra todo o planeta, com uma única exceção em 6 bilhões (adivinha quem?). Por isso eu uso há 9 anos um programa chamado "Word Perfect 5.1 para DOS", e afirmo que ninguém escreve mais rápido e com mais recursos de texto que eu. Enfim, paranóia e megalomania costumam andar juntas, né não?
 

para Sérgio Karam 15/04/2001

Pois o "Deu pra ti" e seus 20 anos passaram, e foi uma ótima oportunidade pra rever as pessoas que se interessaram em rever o filme (Nadotti que veio do Rio, Ceres que veio do frio, Nelson Ferreira e família, sei lá mais quem) e colocar de novo no jornal aquela tal foto em que todo mundo era novinho e cabeludo, e dar algumas entrevistas pros jornais e emissoras pra lembrar que a gente tá vivo e continua trabalhando, e agora resta só esperar pelos 30 anos, ou então que algum desses guris crie vergonha na cara e faça um filme sobre a geração deles pra parar de pegar carona na nossa.
 

para Guilherme Castro 19/04/2001

O fascismo do hino do Rock in Rio até que faz sentido, claro, mas na verdade é pouco mais que um jogo de palavras. Acho que, quando eu tinha 18 anos, cansei de xingar de fascista todo mundo que tinha mais de 30. Agora que eu tenho 44, pra me vingar, eu xingo de fascista quem tem 18. Brincadeirinhas anarquistas inconseqüentes... Faz parte.
 

para Frederico Pinto 29/04/2001

Não sei por quê, acabei de reler a minha última mensagem pra ti e descobri que eu tinha escrito "tufo de bom com o teu filme". Não sei se ainda vale, mas no meu tempo "levar um tufo" significava se dar mal, fazer um mau negócio, perder muito dinheiro. Bom, é claro que não era essa a minha intenção. O que eu queria escrever era, obviamente, "TUDO de bom com o teu filme", um desejo um tanto genérico de que o cronograma seja cumprido, os patrocinadores apareçam, o orçamento seja suficiente, a equipe toda seja criativa e competente, o roteiro seja seguido à risca e o resultado seja excelente. Numa palavra, também antiga, e teatral: MERDA!
 

para Lisie Ane Santos 13/05/2001

Pois eu, ao contrário, me considero cada vez mais cristão. Ainda estes dias tava vendo a matéria da IstoÉ que fala sobre a ascensão do budismo entre famosos brasileiros (Cláudia Raia, etc.) e fiquei pensando: Buda é um cara que atingiu a iluminação pela ascese, Cristo é um cara que se sacrificou pelos outros; Buda ensinou que todos os seres, vivos ou não vivos, têm a mesma importância; Cristo dizia que os seres humanos são iguais e sagrados, portanto diferentes do resto da criação (por serem "filhos de deus"). Sinceramente, e deixando de lado (se for possível) todas as cretinices cometidas pelas muitas igrejas que falaram e falam em nome de Cristo nestes dois mil anos, me parece que Cristo era muito mais necessário na época e continua sendo muito mais necessário hoje. Quem sabe daqui a cinco mil anos a filosofia budista seja "da hora". Mas eu continuo muito mais preocupado com as dificuldades que o filho da minha empregada tem de conseguir um futuro razoavelmente confortável pra ele do que com a ascensão espiritual de uma pedra no meio da rua e suas muitas vidas passadas.
 

para Bibi Iankilevitch 20/05/2001

Não, Bibi, não sei quem é o autor do texto sobre drogas e funk. Mas eu já tinha recebido duas cópias dele antes, sempre como se fosse do LFV. Não é que eu ache, eu tenho certeza que não é do Verissimo. Leio Verissimo há mais de 30 anos, não tem um autor que eu tenha lido mais que ele. Sou capaz de não identificar um texto que eu mesmo tenha escrito há algum tempo, mas com o Verissimo é mais difícil eu me enganar. Poderia citar 20 motivos pra te garantir que a autoria daquele texto é falsificada, mas fico só com essa: se o LFV tivesse escrito aquilo, seria mais curto e, uma vez desvendado o truque (ele estava falando de música, não de drogas propriamente ditas), a crônica se encerraria. Essa é uma das marcas características do texto do Verissimo, e não é por acaso que ele é um dos maiores escritores brasileiros dos últimos 50 anos: ele não enrola. Aquele texto, eu já disse, é legal, mas falta concisão, falta consistência, falta humanismo, falta LFV. Claro que alguém poderia responder: mas é realmente um texto do Verissimo, só que ele escreveu num dia em que não estava tão inspirado. Duvido. Aposto que não. Perguntem ao Verissimo, garanto que a resposta dele vai ser um texto melhor, ainda que "menos inspirado".
 

para Luciano de Mello 15/06/2001

Tem razão. Também sou funcionário público (pelo menos algumas horas por semana) e faço força pra cumprir meus deveres, exatamente como aprendi do meu pai, que foi funcionário público por 30 anos, até se aposentar. Só tem uma coisa: não foi só o Collor que tentou desmoralizar os "seus" funcionários. Que tal essa de sugerir que as repartições façam feriadão "pra economizar energia"? Não parece que a única coisa que os funcionários públicos fazem é desperdiçar a energia (e o dinheiro) do contribuinte?
 
 

Giba Assis Brasil
giba@portoweb.com.br


Quem matou Laura Palmer?

VOLTA