COMO AS COISAS ACONTECEM
OU DEIXAM DE ACONTECERBernardo Turela
Tudo o que é imaginado por alguém, dificilmente acontece. Quer uma prova? Não? Azar, porque eu vou provar.
Quando você vê uma mulher bonita vindo na sua direção, quantas vezes você já pensou que ela iria se ajoelhar em sua frente, dizer que te ama e que esperou a vida toda para te conhecer? Várias. E quantas vezes o imaginado aconteceu? Nenhuma. O destino é sacana, espera você planejar como tudo vai acontecer, para arrumar um jeito de pôr tudo por água abaixo.Posso ficar a noite inteira dando exemplos de casos semelhantes, mas acho que não será necessário.
Não sei qual é a lógica dos acontecimentos, do que devemos fazer para que algo aconteça, mas sei o que devemos fazer para que algo não aconteça. É só imaginar como o indesejado ocorreria que com certeza ele não ocorrerá. Isso é engraçado. Não podemos ter o que queremos, mas podemos não ter o que não queremos. Não sei qual das duas opções é a melhor. Se tivesse tudo o que queria, não teria nada que não queria. Por outro lado, tudo o que não quero, não tenho, logo, tenho tudo o que quero. Desde que, é claro, imaginasse o querido ou não-querido.
Mas, como já disse, o destino é sacana, e o problema dessa tese é a imaginação do destino, que eu não conheço, mas suponho que seja maior que a nossa. Não sei se isso é bom ou mau, pelo seguinte motivo: Se eu não quero, por exemplo, más notas, devo imaginar que tirarei más notas. E se isso acontecer? Toda essa teoria está errada, certo? Errado. E está errado porque eu esqueci de explicar algo muito importante, não só aqui, mas também nos filmes de suspense: detalhes.
Os detalhes são tudo. Posso até imaginar que a mulher que vinha na minha direção iria se ajoelhar, mas não imaginei que ela não tinha os dentes da frente. Se você imagina que tira más notas, mas não imagina que seriam tão más, o destino está livre para lhe dar notas “tão-más”. Mas há também o lado bom, que é quando eu imagino que vou ganhar uma promoção, por exemplo. Pela nossa lógica, eu jamais ganharia, pois havia imaginado isso, impedindo assim o destino de agir. Acontece que eu posso ter imaginado que ganharia de uma maneira, e acabei ganhando de outra. Como aquelas mulheres que concorrem a Miss Sei-lá-o-quê, e se imaginam vencedoras, mas acabam ganhando como Miss Simpatia.
Então, para que algo aconteça, você deve imaginar TODAS as hipóteses possíveis para que não aconteça, fazendo com que o destino não possa escapar de sua obrigação de jamais fazer algo imaginado por alguém. Um grande exemplo é o caso do nosso novo presidente, que com certeza imaginou que algum dia se elegeria presidente (caso contrário não teria concorrido após três derrotas), mas não imaginou que para isso teria que mudar de ideologia ao aceitar apoio de Sarneys e ACMs.