A ESPERANÇA E O MEDO

J. Olímpio

jolimpio@osaldaterra.com.br




 - 27 de outubro de 2002. Numa proporção jamais vista, o País ratifica uma eleição em muitos pontos inédita. Após uma história republicana marcada por líderes "bem-nascidos", o Brasil escolhe um despossuído para seu próximo governante.

Não é de hoje que se manifesta um descontentamento crescente com a performance política das elites. Cada vez mais, mundo afora, aumenta a ansiedade pela ascensão de lideranças alternativas ao poder. Não só por mera alternância, mas porque as tradicionais fórmulas de governar se mostram bastante esgotadas, muito exauridas, demasiado excludentes.

O maior obstáculo a essas novas lideranças reside, quase sempre, no pânico que as classes dominantes sentem diante da suposta ameaça à sua hegemonia. Sua noção de governo já chegou, há muito tempo, ao patamar de dominação. Por isso, entregar um governo significa - para essa gente - "entregar o ouro"...

Nações evoluídas tendem a, cada dia mais, valorizar seus cidadãos pelo que são; para si e para a sociedade. Raça, cor de pele, religião, grau de instrução, condição econômica, aparência física e tendência política passam a ser características formadoras de perfil, jamais álibis para a exclusão desses indivíduos. A avaliação de líderes políticos, então, passa a ser feita por seu comportamento e não simplesmente por suas características externas.

Paradoxalmente rico e miserável, promissor e endividado, criativo e dominado, o Brasil cansou de ser passivo diante da opressão multidisciplinar que o conserva na "geladeira" da extorsiva ordem econômica internacional. Somos a reserva biológica, ambiental, mineral, hídrica e cultural do planeta. Mas, para quem ficará essa herança? Nosso povo terá uma participação justa nesse legado à humanidade?...

O ano de 2003 pode muito bem iniciar uma nova era, para o País e seu povo. Maiorias políticas à parte, o que deve impulsionar o Brasil são a auto-estima, o nacionalismo, o senso comum, o pacto social, a inclusão, a justiça e a igualdade crescentes. Basta de acordos desvantajosos, endividamentos escorchantes, servilismo estratégico, corrupção generalizada, suicídio institucional, entreguismo e dilapidação.

A vontade popular não podia ser mais sábia, ao escolher para seu governante máximo um homem tão identificado com a história de sua gente. A esperança do Brasil continental repousa, a partir de agora, em mãos dispostas que somam nove dedos, na experiência de um brilhante articulador político sem diploma, na sensibilidade de um antigo excluído pela ordem econômica e social.

O medo de sua suposta incompetência, alimentado por tudo o que há mais abjeto em termos de preconceito, acabará sendo substituído pela constatação de que somos todos importantes na reconstrução da sociedade. E, que o maior dos medos é justamente o de conquistar a vitória junto com quem não julgávamos apto a vencer.

Assim como as minorias ainda excluídas do convívio social, o Presidente pobre, inculto (???) e "mutilado" do Brasil também merece uma chance de mostrar a que veio. Diante de seu povo e da história do País, sua maior glória será, sem dúvida alguma, tornar a sociedade brasileira solidária e soberana.