ITENS ENVIADOS (8)

Giba Assis Brasil

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para Ricardo Cordeiro 10/04/2002

Há uma grande diferença entre informação e conhecimento. As pessoas em geral hoje em dia são muito bem informadas, mas conhecem de verdade muito pouca coisa. Sabemos tudo o que acontece na vida dos "artistas" da casa do Sílvio Santos e dos "brothers" do Roberto Marinho. Mas sabemos mesmo o que está acontecendo nos territórios ocupados por Israel, e em que isso vai afetar a nossa vida nos próximos anos? Acesso à informação é fundamental, mas excesso de informação embota, atola, engarrafa. Tu quer pesquisar sobre, digamos, os "refuseniks", os soldados israelenses que se recusam a ocupar os territórios palestinos e estão indo pra cadeia por isso - a imprensa mundial esconde o fato, a Internet te dá duas mil fontes a respeito, mas como saber onde está a informação que realmente interessa?
 

para Márcia Dienstmann 20/04/2002

Um dia desses, me propus a assistir o tal "Big Brother Brasil", já que tanta gente estava vendo. Resisti a 15 minutos do mais puro tédio, lembro de ter visto alguém tomando banho e cantando no chuveiro, depois a umas quatro pessoas discutindo o que iam fazer pro jantar enquanto fingiam que não sabiam que estavam na frente de uma câmara. Não consegui me fixar em nenhum personagem, não consegui perceber qualquer indício de enredo. Confirmando o que eu já esperava, senti falta de atores, e principalmente de um roteirista. Sinceramente, nunca vi uma coisa tão chata na minha vida, e olha que eu já tentei assitir até ao emocionante campeonato de golfe para sêniors do Arizona. Portanto, não sei quem é o Kleber de quem tanto falam. Não sei se foi justa ou injusta a sua vitória, não sei se a Globo manipulou, se os hackers influenciaram, não sei nada - e, sinceramente, não quero saber. A única conseqüência de tudo isso pra mim, pelo que eu pude perceber, é que uma frase evasiva que eu costumava usar quando não tinha mais nada pra dizer ("Faz parte"), agora ganhou uma conotação que não me agrada nem um pouco.
 

para Ernâni Ssó 02/05/2002

Tudo bem, "Gosford Park" não é o melhor Altman, não é um grande filme, nem nunca tentou ser, mas me pareceu um belo Agatha Christie do ponto de vista da cozinha. E "desprezo pelas pessoas" não me parece que seja uma característica nem do filme, nem muito menos do velho. Mas também é possível que eu esteja dando uma de cinéfilo, julgando o filme por algo que não está nele. Sobre os cinéfilos, fico com uma frase do Werner Schünemann: "Se eu quiser uma opinião sobre um vinho, eu não vou pedir pra um bebum." Talvez eu tenha bebido Altman demais na adolescência
 

para André Arteche 07/05/2002

Eu sou jornalista, continuo pensando em mim como jornalista, e na maioria das vezes em que eu tenho que dizer qual é a minha profissão (preenchendo fichas em hotéis, por exemplo), eu respondo que sou jornalista. Mas não exerço jornalismo há muito tempo, e pra falar a verdade exerci muito pouco em toda a minha vida. (...) Me sinto jornalista quando alguém faz alguma pergunta ao "artista" que eu finjo ser vinte horas por dia, e eu respondo como, imagino, um jornalista responderia, se alguém fizesse alguma pergunta pra ele. Jornalismo pra mim é a capacidade de relacionar fatos do cotidiano com a história, e vice-versa, e tudo isso na velocidade de fechamento do jornal: piscou, dançou. E, depois que inventaram as embalagens plásticas,  o jornal de ontem já não serve mais nem pra embrulhar o peixe.
 

para Werner Schünemann 29/05/2002

Como é que eu respondo uma mensagem que começa com "vocês, jornalistas"? "Já vocês, publicitários", é isso? "Vocês, gremistas"? "Vocês, que moram em Teresópolis"? "A Marca da maldade" é genial, mas é chato. "Cidadão Kane" é envolvente do início ao fim, nunca perde o pique. E não tem a mala do Charlton Heston ecoando que "ninguém vai tirar o meu rifle". Isso só pra começar, mas provocação se responde de forma provocativa, ou não se responde. "Vocês, teuto-gaúchos", como diria o Fischer?
 

para Leonardo Melo 15/06/2002

Forrest Gump moralista? Sem dúvida. Não me lembro do filme o suficiente (nem prestei assim tanta atenção nele) pra te argumentar com detalhes, mas todos os personagens rebeldes se dão mal no filme, e só quem se dá bem é o próprio herói débil mental que se orgulha de sua inteligência curta, como se isso fosse um sinal de pureza ou coisa parecida, quase um prenúncio do presidente que os norte-americanos viriam a eleger alguns anos depois. Realmente, o filme tem algumas boas trucagens, meia dúzia de piadas que valem a pena, mas o resto eu esqueci.
 

para Márcia Dienstmann 20/06/2002

Perturbado o Gerbase sempre foi, mas dá pra dar um desconto: o pai dele foi presidente do Grêmio, acho que ele não tinha alternativa mesmo. Imagina que, uns dias antes de começar esta Copa, ele teve a cara de pau de perguntar se eu ia torcer pra Seleção Brasileira, já que esta seria "a seleção mais gremista da História". Claro, é o tipo de raciocínio de quem nunca engoliu que Dunga e Taffarel sejam os jogadores que mais jogaram com a camisa verde-amarela em Copas, e de quem torceu desesperadamente contra o Brasil nas Olimpíadas de 1984 (como ele mesmo me confessou). Em resumo: coisa de gremista. Mas o Gerbase tem razão: mesmo com o Polga no banco, o Luizão esquecido e o Emerson em casa, esta é mesmo "a seleção mais gremista da história". É só ver o jeito que os juízes estão roubando pra nós.
 

para Werner Schünemann 02/07/2002

No meu tempo de faculdade, uma boa definição de jornalista seria: o cara que foi saber a opinião do Romário sobre a vitória do Brasil sem ele. Cadê esse cara? Uma outra, de alguns meses atrás: o cara que pegou uma câmara e registrou o Antônio Britto cantando (ou se recusando a cantar, tanto faz) a Internacional dos Trabalhadores na comemoração de aniversário do seu partido, o Popular Socialista. Cadê ele? Acho que o problema de uma eleição para jornalista, como tu propõe, seria a falta de candidatos que preencham os pré-requisitos mínimos (sempre de acordo com as minhas lições acadêmicas): curiosidade intelectual, capacidade interpretativa, independência e inconveniência.
 

para Leonardo Melo 16/07/2002

"Nunca foi tão terrivelmente ruim a programação da tv aberta." Concordo. Pierre Bourdieu tem um texto sobre isso. Alguma coisa na linha "O que as pessoas têm em comum são as suas baixezas, a curiosidade mórbida, o desejo de vingança, a inveja, etc. O que as pessoas têm de grandioso, de interessante, são as suas diferenças. A TV, ao tentar atingir a todos ao mesmo tempo, necessariamente se torna sempre e cada vez pior." O mais interessante, no caso da TV brasilera, é este paradoxo: quanto mais o poder da Globo é ameaçado pelas "menores" (o que só pode ser positivo), mais a Globo é forçada, para sobreviver, a baixar o nível da sua programação, a questionar o próprio padrão, forçando a competição cada vez mais pra baixo. Não vejo saída pra isso, a não ser uma mudança total de modelo, que também não me parece viável, ao menos pelo que eu consigo ver daqui.
 

para Teo Meditsch 17/07/2002

Esses tempos fui mostrar em aula "A Noite americana" do Truffaut, e descobri que as cópias que existem no Brasil são todas faladas em inglês. E - pior! - inglês com falso sotaque francês! Os distribuidores norte-americanos imaginam que o público norte-americano é tão burro que só consegue ver um filme francês com os atores franceses dublados por atores norte-americanos fingindo que são franceses! O (também insuportável) Paulo Francis dizia que "ninguém jamais perdeu dinheiro por subestimar a inteligência do povo norte-americano". Ou seja, os distribuidores norte-americanos estão certos. A questão é: por que estas cópias de merda vêm parar aqui, no quintal? Será porque eles imaginam que nós também somos tão burros que, etc.?
 

para Alvaro Oppermann 29/07/2002

Sabia que o diretor de produção de "American Grafitti", Gary Kurtz, era um hippie natureba que decidiu que a equipe tinha que comer apenas legumes e grãos durante a filmagem? Resultado: greve da "pesada" no segundo dia. Tá lá no "Skywalking: the life and films of George Lucas", escrito por um tal Dale Pollock em 1983. Aliás, do mesmo livro, uma citação do Norman Mailer com ecos óbvios: "Fazer um filme é uma mistura de circo, campanha militar, pesadelo, suruba e chapação".
 

para Ubiratan Silva 31/07/2002

Não dirijo nada há quase quinze anos. Nos últimos dez, devo ter ido menos de 10 vezes a um set de filmagem, acho a coisa mais chata do mundo, depois da entrega do Oscar. Sou roteirista e montador, e já me basta. Tenho dito que a única possibilidade de eu voltar a dirigir seria um documentário, sem atores, com equipe mínima e de preferência com um co-diretor que faça a parte mais pesada de lidar com câmara, orçamento, cronograma, essas coisas - nesse caso, eu até me disponho a ir ao set, mas vou me divertir mesmo é na ilha de montagem.
 

para Júlio Conte 12/08/2002

Acredito quando as pessoas contam que, na história da arte, boa parte das obras-primas foram conseguidas a custo de muito sofrimento. Mas eu estou com 45 anos e não é isso que eu busco. Pelo contrário, tendo a achar que, se eu não estiver tendo prazer no meu trabalho, ele não vai funcionar. (Engraçado pensar que essa mensagem pode dar a volta ao mundo antes de chegar ao teu computador, a menos de 50 metros daqui. Mas é esse o século em que calhou da gente viver, e vamos em frente.)
 

para Cristina Charão Marques 22/08/2002

Pois o Não. Em crise, anda ele. Que fazer?, me pergunta Lenin da estante, e me pergunto eu. No fim das contas o Não só funciona quando a gente não tem filme pra fazer, o que é bom, mas é péssimo. O Não só existe nas horas vagas, o que é ruim, mas é ótimo. Em cheio, Cristina: "discussões político-filosóficas-comportamentais com o amargo do chimarrão" são o bônus, "incursões literárias dos colaboradores bacaninhas" são o ônus, ou o ânus. Quando eu posso, corto tudo, mas democracia às vezes cansa.
 

para Carlos Gerbase 11/09/2002

Como eu abro anexos DOC sem o Word? Na verdade, eu tenho um método. Salvo o anexo DOC num diretório qualquer e depois abro pelo "Quick View", sem perigo de vírus e sem precisar pagar royalties. Se for o caso (como é o caso), copio pra um arquivo TXT. Por enquanto funciona, mas imagino que a próxima versão do Office vai gerar arquivos que não podem ser abertos pelo Quick View, ou quem sabe os inventores do Quick View vão ser processados por espionagem industrial e violação de direitos autorais do Bill Gates, o único autor do mundo que ainda é protegido pelas leis de direitos autorais. E tem gente que acha que isso tudo é brincadeira.
 

para Patricia Silva 12/10/2002

O Antônio Fagundes uma vez contou que, quando ele escrevia roteiros pra programas de TV de ficção (acho que você não pegou as séries "Amizade colorida" e "Carga pesada"), sempre se preocupava em, num determinado ponto do roteiro, colocar "a frase" que sintetizava toda a história. Pois aí o programa era filmado, montado, etc, e na hora da transmissão a pessoa que estava com ele (namorada, amigo, etc.) sempre ia colocar açúcar no cafezinho exatamente na hora da "frase", e terminava perdendo todo o sentido do programa. Ou seja: em televisão não pode haver "a frase", ou então "a frase" tem que ser dita três vezes, pra que se tenha certeza de que ninguém vai perdê-la por estar colocando açúcar no cafezinho. Diferenças de veículo. Em televisão, principalmente na televisão aberta, é absolutamente necessário trabalhar-se com um nível de redundância impensável para o cinema. Mas o que fazer com um filme feito pro cinema que, por questões de mercado, precisa passar na tevê? Faz-se outra versão, repetindo "a frase" três vezes?