O Mega Escroto

Marisy D López


Ele tinha aquela mania nauseabunda de coçar o saco e depois cheirar as pontas dos dedos; mais precisamente as unhas grandes, usadas meticulosamente para tocar violão nas rodas de baladas. Um dia ela reclamou dessa mania nojenta, mas ele sempre tornava a fazê-lo quando "achava" que ela não estava olhando.

Porém, ela sempre via com o rabo dos olhos e ficava com vergonha de repetir a dose de reclamação.

Ela não sabia que saco fedia, mas ele esclareceu: ele tinha micose na região escrotal.

E, assim, foram se somando outras tantas pequenas misérias.

Ela não sabia como agüentara cinco meses aquela criatura e os seus acessos de grandeza, estes com certeza para compensar a escassez peniana (o que nem de longe seria um defeito, quando bem usado), mas nem quanto ao seu uso ele possuía algum dom que pudesse compensar

Sua limitação peniana era tão proeminente que se tornava difícil manter o pênis no lugar adequado; ele escorregava e o seu excesso de pele ajudava a dificultar mais ainda a penetração. Por várias vezes, ela tivera a leve sensação de estar ao lado de uma mulher na cama, ainda mais com aquele cabelo comprido e o indefectível rabo-de-cavalo

A configuração escrotal também não deixava de ser chocante! Ela descreve magistralmente que ambos pareciam ser uma mini-pizza e do meio da banha surgia aquele botão incipiente chamado pênis! Ela, uma morena linda, alta, com uma encaracolada cabeleira negra, deveria ser um contraste gritante com aquela figurinha esquálida "em todos os sentidos".

Fê gosta de relembrar dos dentes da figurinha - onde não havia um espaço, havia um podre! Bem, o bafo nem precisa descrever!

E foi só depois de algumas semanas que ela descobriu que o impecável apartamento da criatura, na verdade, era de sua irmã. Que dele não havia nem um radinho de pilha daqueles de camelô mesmo!

Hilária mesmo foi a história da "Divina Comédia"! Ele comentava tudo como se tivesse lido todas as obras de Dante, Dostoievski, Ibsen, até que um dia ela descobriu que o único livro que ele lera fora uma obra umbandista emprestada de um parente!!!

Aí, eu acho que finalmente ela caiu do cavalo! E resolveu apear!

Ah, ia esquecendo o lado "místico" da criatura!

Era seu costume tecer comentários aleatórios, instigantes que faziam o pessoal da "roda de baladas" imaginar que estavam à frente de um novo guru do segundo milênio. O que ele dizia fazia a gente matutar nas profundezas do inconsciente...

Bem, uma coisa devemos considerar - ele tinha classe pra enganar tanta gente. Ou memória! Juro que eu não tenho uma memória tão privilegiada a ponto de ouvir uma frase de efeito de algum perito e depois repeti-la enfaticamente, deixando todos boquiabertos!

Logo de início, o Mega contou de suas viagens a Portugal e das cinco vezes que fora a Cuba.

Como ela adorava viajar, ela inquiriu detalhadamente sobre Portugal, e é claro, ele se perdeu, e ela sacou, e ele desviou remendando: conhecera Portugal em "outras vidas"!

Como ele tava sempre "duro" ( de grana , éóbvio!), ele inventava assaltos. Os impiedosos ladrões levavam tudo – cartões, cheques...e a grana!" Um dia, ela perguntou: "Mas e o violão? Por que não o levaram???

- É imantado! Respondeu ele com aquele olhar misterioso conhecedor dos truques mágicos...

Fora marcado um show pra ele. O Mega programou uma megaprodução - 400 incensos seriam distribuídos na porta do teatro e 400 velas iluminariam a noite. Celestial, não?

Compareceram nove pessoas, sendo que oito eram da família!

Mas a parte mais hilariante eram as visões que ele tinha na madrugada! Costumava contar que via espíritos guerreiros à volta da cama e o embate ocorria inevitavelmente com estes personagens. E ele descrevia fielmente estas lutas: quando ele estava perdendo a batalha para estes seres fantasmagóricos, surgia uma outra figura benemérita para salvá-lo - o Cacique Beira-Mar!

Quando o conheci num churrasco na cobertura do apê da Fê (até que rimou!), achei uma coisinha estranha nele - ele não olhava nos olhos da gente!

A segunda vez que eu o vi foi lá na Lancheria do Parque; eu estava com meu amigo Stefan pra curtir uma ceva geladinha. Fiquei na dúvida se o cumprimentava ou não.

Optei pelo não. Preferi o silêncio inteligente do meu amigo.

Acertei.

PS: Se você encontrar um escroto ambulante nas ruas da Cidade-Baixa, caia fora! Ele é envolvente, boníssimo e toca violão.

Mas, mas amiga, caia foooora!