PALPITES FURADOS E SENTIMENTOS MISTURADOS 2:
LULA LÁGiba Assis Brasil
giba@portoweb.com.br
para Giovani Letti 20/06/2002
Esse tal Alencar parece ser um cara sério (foi ele que escreveu "Iracema", não foi?), mas o PL não é sério, nem um pouco. O vice é uma pessoa, é verdade (embora a Rita Camata tente desmentir essa tese), mas coligação se faz entre partidos. De preferência, com um mínimo de afinidade programática. Ou seja: sei lá. Um sonoro e definitivo sei lá.
para Amabile Rocha 08/07/2002
Sempre defendi que o PT tinha que fazer alianças. Quando resolvi me filiar, em 1992, minha tese era algo como "parlamentarismo já, Lula presidente e Covas primeiro ministro". Perdi todas, e mais algumas. O que não dá pra aceitar é começar uma política de alianças justamente pelo PL!
para Clarisse Rath 03/09/2002
O Geraldo Sarno, outro grande documentarista que estava no seminário da UERJ, me falou que tem certeza que, na hora agá, os caras inventam qualquer coisa pra fazer o Lula perder, e me disse também que, pra geração dele (ele deve ter uns 60 anos), "o Brasil é uma paixão perdida". Triste isso, né?
para Débora Peters 03/09/2002
Pra mim, essa campanha de aproximação do Ciro com o Collor serve pro Serra, não pro Lula. Eu, pelo contrário, já estou quase votando no Ciro, pra garantir que ele vá pro segundo turno. Se por enquanto toda a máquina do governo (inclusive as relações exteriores) tá agindo desse jeito pra desmoralizar o Ciro, já pensou o que eles não vão fazer num segundo turno contra o Lula? Tá certo, eu não vou votar no Ciro, é claro, é só maneira de dizer. Mas, se um motorista de táxi me diz que vai votar no Ciro, eu dou a maior força, e estimulo ele a conseguir mais votos.
para Japa Sakakibara 12/09/2002
"Por que Lula não quiz (sic) estudar?" Provavelmente porque ele era um boyzinho cheio da grana que tinha coisas mais divertidas pra fazer, ou porque ele tinha alguém que pagava as contas pra ele enquanto ele não fazia nada a vida inteira. Ou talvez porque a quantidade de boas escolas públicas que ele tinha à disposição no interior de Pernambuco era tão grande que ele ficou em dúvida e terminou pegando um pau-de-arara pra ser operário na região do ABC paulista.
Alguém precisa ter doutorado na Sorbonne pra ser um bom presidente do Brasil? Fernando Henrique tem. Foi um bom presidente? Eu acho que não. Alguém precisa saber conjugar corretamente o verbo "querer" pra ser um bom fotógrafo ou artista plástico? Responde tu mesmo.
para "ebitt" 13/09/2002
Você diz que, na lista de apoio ao Lula, "só tem bacana". Fantástico raciocínio! Se o Lula fala nos problemas do Brasil, e na possibilidade de resolvê-los, certos "bacanas" desqualificam a fala dele, porque "ele não tem curso superior" - esquecendo que o pessoal com curso superior está no poder há 500 anos e não resolveu problema nenhum, e que a turma da Sorbonne chegou ao poder há 8 anos e os problemas do país só se agravaram. Se alguns outros "bacanas" (artistas, intelectuais, cientistas, músicos, ecologistas, teólogos, etc.) dizem que o Lula tem razão, aqueles certos "bacanas" reclamam da falta dos torneiros mecânicos, e desqualificam os "bacanas" - não por serem "bacanas", é claro, mas por apoiarem o Lula.
para "ebitt" 15/09/2002
Também acho que o Lula não tem chance nenhuma contra o Serra. Aliás, acho que ninguém tem chance nenhuma contra o Serra, ou fosse quem fosse o candidato governista, nesse momento de tantos interesses internacionais em jogo. (...) Mas, mesmo sem acreditar na vitória do Lula, e mesmo sem acreditar que um eventual governo Lula fosse ser o governo de esquerda (ou que nome você queira) capaz de começar a construir o Brasil que eu gostaria para os meus filhos, continuo tendo esperança. Não sei se isso é ingenuidade, utopia, ou quem sabe algum dos meandros da dialética - que eu confesso não saber o que é, mas tenho algumas intuições a respeito.
para Carolina Cimenti 25/09/2002
Minha mãe, colorada como quase todo mundo na minha família, tem uma forma estranha de torcer: desde que eu me conheço por gente (e isso faz tempo), ela sempre, invariavelmente, antes de cada jogo, diz que tem a sensação (ou a impressão, ou até mesmo a certeza) de que o Inter vai perder. Claro que isso é antes de tudo uma superstição, mas é também uma atitude: se realmente perder, ela avisou; se ganhar, vai estar todo mundo contente (ela só revela suas "certezas" pra outros colorados) e nem vai lembrar da sombria previsão anterior. Já imagino que tu, como tricolor exilada, tá pensando que a atitude dela é apenas realista, que ela só diz que o Inter vai perder pra ter mais chance de acertar. Mas acontece que ela fez isso sempre, em momentos melhores e piores do colorado, até mesmo em 1975-76, quando tu não era nascida, mas deve ter ouvido falar que o Inter ganhava todas, e a gente só ia ao Beira-Rio pra saber o tamanho da goleada.
Bom, eu ia começar falando sobre o Lula, as chances de vitória dele e as possibilidades de ser otimista ou pessimista num momento desses, ia citar Gramsci e toda aquela história do "pessimismo da inteligência" (ou "da razão", depende do tradutor) versus o "otimismo da vontade", de que tu deve ter ouvido falar na Fabico, mas terminei achando que a minha mãe e o Inter eram assuntos mais apropriados.
Não é que eu esteja agindo como a minha mãe ao continuar dizendo, contra todas as evidências indicadas pelas pesquisas, que ainda não vai ser dessa vez, que o Lula vai perder de novo, etc., por acreditar que isso de alguma forma vai contribuir para a vitória. Já larguei essa superstição há muito tempo, até porque, nos últimos anos, a minha mãe tem acertado quase todas as previsões que ela gostaria de errar. Mas é sempre bom lembrar que:
1) Essa catrefa que sustenta o governo Fernando Henrique, inclusive no exterior, e mantém o Brasil no pódio entre os países com a pior distribuição de renda do planeta, não vai querer perder essa mamata assim no mais. Eleições, votos, vontade da maioria? Não me pergunte se eu deixei de acreditar nisso, mas se ELES algum dia acreditaram.
2) Em 1989, quando tudo levava a crer que o Lula ia ganhar e que o país tinha jeito, apareceram o aborto da Miriam Cordeiro, o aparelho de som presenteado, o seqüestro do Abílio Diniz, os "documentos secretos" sobre a intervenção na poupança, a edição do debate pelo Jornal Nacional, etc.
3) Em 1994, depois do Impeachment e no auge da "mística petista", quando se discutia nos jornais se o Lula ganharia já no primeiro turno ou se apareceria algum candidato capaz de enfrentá-lo no segundo, surgiu o Plano Real.
4) A "apática e combalida candidatura Serra" já aniquilou com a Roseana e o Ciro, e ainda nem abriu sua caixinha de maldades para enfrentar o Lula.
5) O que tem de melhor na campanha do Lula hoje - a naturalidade com que ele fala e prova que conhece o Brasil e seus problemas mais do que qualquer outro candidato ou não-candidato, era pra ter sido o fulcro da campanha de 1994, com as "caravanas da cidadania". E não foi simplesmente porque o Congresso aprovou uma lei, supostamente para "evitar o abuso do poder econômico", proibindo o uso de imagens externas no Horário Eleitoral Gratuito. Sabe-se hoje que o mentor da tal lei foi um obscuro deputado tucano chamado José Serra.
6) Gramsci, quando escreveu que o "pessimismo da inteligência" não deveria abalar o "otimismo da vontade", já estava preso há 6 anos - e estava, na verdade, citando Romain Rolland.
7) Amanhã o Inter joga contra o Bahia no Beira-Rio e precisa ganhar pra continuar com chances no Campeonato Brasileiro - e a minha mãe jura que não ganha.
para Patrícia Francisco 19/10/2002
Será que a gente tem o direito de usar uma imagem pública pra interferir no voto das pessoas? Acho que não dá pra discutir tudo isso sem pensar historicamente pelo menos dois dados significativos: o longo período da ditadura brasileira, em que "os artistas" eram as vozes que impediam "o monstro de ser ainda mais feroz", pra usar uma metáfora bem velha e verdadeira; e a configuração atual dos meios de comunicação, em que um sujeito como o Rogério Mendelski, sem nenhum talento a não ser a própria capacidade de sobrevivência, tem diariamente à disposição o poder de interferir na opinião de uma quantidade absurda de pessoas. Tem que levar em consideração também o "J'accuse" do Zola, o "intelectual orgânico" do Gramsci e até mesmo o "engajamento desesperançado" do Sartre. Mas isso tudo são só os ingredientes, não é nem de longe uma conclusão.
Viva Regina Duarte! Abaixo o medo! Lula Presidente.
para Cristina Charão Marques 21/10/2002
E então estamos a uma semana da eleição do Lula? É isso mesmo? E as pessoas continuam andando na rua como se nada de anormal estivesse acontecendo? Ou sou eu na minha paranóia que continuo achando que, até a última hora, ainda vão aprontar alguma? Uma sucessão de escândalos plantados pra reverter a tendência aparentemente inabalável do eleitorado? Fraude na urna eletrônica? Assassinato, em último caso? Nada, nada disso? Quer dizer que o Lula vai ser eleito e assumir, e os problemas só vão começar mesmo é depois disso?
Hoje a minha mãe me contou uma história espantosa. Ela conversou essa semana com o médico dela, um cara da minha idade, que jogou futebol comigo na adolescência, e que diz estar apavorado porque o Lula vai ganhar. Ele já transferiu todo o dinheiro dele pra uma conta no exterior, passou as duas casas pro nome dos filhos e está preparando tudo pra ir morar em Portugal no ano que vem. Tudo isso porque ele tem certeza que o Lula vai tirar tudo o que ele tem. Tu acredita nisso? Um cara com curso superior, vida urbana, que vive em Porto Alegre, governada pelo PT há 13 anos... Pode?
para Carolina Cimenti 31/10/2002
Lula presidente! Difícil acreditar, mas é isso. No domingo fiquei um pouco abalado, não consegui comemorar direito, a derrota aqui no RS pesou bastante (e não é do grenal que eu tou falando, tá?). Mas segunda-feira no início da tarde, eu tinha almoçado e tava saindo de casa pra trabalhar, minha filha tava na frente da TV vendo o Lula dando o seu primeiro pronunciamento como presidente eleito. Sentei pra ver. Parei tudo. "Se ao final do meu mandato cada brasileiro puder fazer três refeições por dia, todos os dias, eu terei cumprido a missão da minha vida." Tão simples, né? Tão pouco! E por que é que ninguém conseguiu fazer apenas isso em 500 anos? Será que alguém quis? Fiquei pensando nisso e chorando na frente da TV, hora mais imprópria, duas da tarde, barriga cheia. Lula presidente. Agora é que começa a verdadeira dificuldade. O que é isso, pai? Limpa essas lágrimas, vai trabalhar. A luta continua.