Lulit
Quando eu era pequeninha, minha mãe me dava leite e queijo em excesso. Meu cocô era duro feito pedra e ficava dias dentro do meu intestino. Na minha casa, quase não se comia salada e a fruta era banana que também segura o tranco. Só que eu não dizia pra ninguém que meu cocô era duro. Pra tentar segurar o cocô dentro de mim, toda vez que eu sentia a mínima menção de movimentos peristálticos, sentava rápida no meu sofá-cama e de lá não saía até passar totalmente a vontade e o bolo ficar cada vez mais duro. Aos dez anos, eu já tinha muitas veias rompidas, o que provocava sangramentos constantes. Jamais eu associei o problema à má-alimentação. Além do estrago intestinal em si, eu provocava um outro que era o postural, pois eu fazia todo o meu tema sentada no sofá, lia muitos livros deitada ou via tv. A solução, errada mas aliviadora, veio finalmente quando fui visitar uma santa prima e ela me ensinou duas coisas: a tomar laxante e a passar creme rinse, pois meu cabelo comprimido era um nó só. De lá até cá, continuo corcunda mas já deu pra dispensar o laxante. Só que para escrever estas linhas agora estou sentada no sofá com o laptop (agora a cabo) nas pernas e a coluna bem torta. É muito chato passar o dia todo sentada no computador trabalhando e voltar para uma escrivaninha quando chega em casa. E os textos feitos sentada devem trazer lembranças que atiçam a vontade de me soltar nas letras. Ainda mais com a internet no meu colo.
