MENOS, GENTE
*eduardo_guimarães_da_silveira |
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“Aí veio a onda do tchê
milonga
“A história do roque gaúcho” – Lovecraft Falar da música gaúcha (leia-se aqui: pop rock porto-alegrense) é entrar em um terreno altamente passional. Parece que é impossível analisar a produção musical sem assumir uma posição extremista. Qualquer discussão tem que ser polarizada, tomada de “amores” por esta visão ou aquela. De um lado, os devotos do roque gaúcho. Não importa o estilo da banda ou do cantor(a). Se é gaúcho e, principalmente, porto-alegrense, é bom. Como não poderia ser? Afinal, somos o Estado mais politizado do país, temos o maior número de leitores e de salas de cinema por habitante do Brasil, por que na área musical seria diferente? É a famigerada supremacia sulista. Em tudo. É um círculo vicioso de músicos, produtores, empresários, radialistas e fãs (ou seriam seguidores?) que se autobajulam e proclamam a superioridade local, independente da qualidade dos artistas. A necessidade de afirmação da “identidade cultural” supera a racionalidade. O importante é dizer amém. Do outro, os corneteiros de plantão, os detratores do roque gaúcho. Toda música gaúcha e, principalmente, porto-alegrense, é um lixo. Como não poderia ser? Afinal, só olhamos para o próprio umbigo, exaltando a “cor local” em letras e referências musicais que são incompreensíveis para quem vive de Santa Catarina para cima. E a mania de ser intelectual, então? O hermetismo como marca registrada. E depois ainda querem vender... Os integrantes desse grupo procuram na contracapa do CD a origem da banda para poder dizer: “Só podia ser gaúcho mesmo!”. Existem até sites que se prestam a criticar tudo o que é daqui, apenas para cultivar a pose de revoltados. É comum a idolatria de bandas paulistas, cariocas, sergipanas ou alagoanas, simplesmente pelo fato de elas não serem gaúchas. “Esses caras sim tem um som original”, comentam. Para os dois grupos, um recado: menos, gente. Será impossível agir com bom senso, de cabeça fria? A verdade é que existe qualidade em muitos trabalhos locais, assim como existem produções incrivelmente vergonhosas. E isso é normal em qualquer cena, seja no Brasil ou no exterior. O grande problema aqui é a necessidade de ser engajado em um “movimento”. O que só serve para piorar as coisas e produzir uma cegueira coletiva, que exalta qualidades inexistentes e ofusca talentos notórios. O resultado? Os mesmos clichês repetidos há anos. Tem mais alguém aí com a sensação de que isso nunca vai mudar? Imagino que sim. Vamos esperar para ver. Sentados, de preferência. Ah, e caso alguém ache que o
texto fugiu da discussão originalmente proposta de analisar a nova
música gaúcha, só me resta deixar a pergunta: como
falar de algo que não existe?
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*publicitário
e estudioso do roque gaúcho
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