[ NÃO 80 ]
outubro/2004


ITENS ENVIADOS (10)
*giba assis brasil

para Joel Gorski 24/01/2004

Lembro que comprei um time de botões pro meu filho no natal de 2000 e depois uma mesa "semi-oficial" no natal de 2001. As duas compras eu fiz no mesmo lugar: numa loja chamada "Tio Patinhas", que fica (ou ficava) em alguma travessa da Borges, acima da rua da Praia e abaixo do viaduto Otávio Rocha, na primeira quadra à direita. Depois que tu me perguntaste, procurei "Tio Patinhas" no Guia Listel de Informações Comerciais e não achei. Procurei no Guia de Endereços, nas ruas Riachuelo, Jerônimo Coelho e Andrade Neves. Não achei nenhuma razão social que me parecesse ser de uma loja de botões. Esta semana estive no centro, tinha um tempinho sobrando e resolvi procurar a pé. Percorri as três ruas (não tem nenhuma outra acima da rua da Praia e abaixo do viaduto) e não achei. Ou a "Tio Patinhas" fechou ou foi tragada por algum univeso paralelo. Ou, claro, eu tou ficando velho e confundindo tudo. E a loja se chamava, sei lá, "Camundongo Mickey" e fica em Três Figueiras. Sei lá.
 

para Maria do Rosário Caetano 25/01/2004

Seguindo na brincadeira, apresento meu currículo nem um pouco imaginário: GIBA ASSIS BRASIL (05/04/1957), um cineasta em eterno retorno. Começou no cinema muito jovem, dirigindo longas - duas vezes, portanto reincidente, mas prometeu nunca mais repetir a experiência. Depois passou à assistência de direção de longas (4 vezes) e, em seguida, à montagem de curtas (mais de 40 trabalhos realizados). Não contente com os rumos de seu trabalho, depois de alguns anos passou a escrever roteiros de teledramaturgia (uns 10), depois a ser júri de festivais e concursos de apoio à produção (mais de 20). Finalmente, coroando uma carreira meteoricamente regressiva, começou a dar aulas de cinema na Universidade. Seu principal projeto para o futuro é ser carregador de cabos em programas de TV ao vivo.
 

para Carla Martins 31/01/2004

Minha mãe é católica (aliás, pensando bem, eu também), o que é um pouco diferente de ser evangélico. Mas fiquei pensando que uma boa maneira de tu te comunicar com a tua mãe sobre o Raul seria usando a própria idéia dele: "Existem dois diabos, / só que um parou na pista: / um dele é o do toque, / o outro é aquele do 'Exorcista'." Claro que não com essas palavras... Mas tu tem razão. Raulzito era uma criança criativa. Pena que foi embora tão cedo.
 

para Kátia Klock 03/02/2004

Lembro que, 20 anos atrás, quando começaram a surgir os computadores pessoais, o que se dizia é que as pessoas iriam trabalhar menos. O que aconteceu foi o contrário: todo mundo, no planeta inteiro (mesmo os desempregados) trabalha hoje muito mais do que 20 anos atrás. Na realização audiovisual aconteceu exatamente isso: hoje a gente faz muito mais coisas em menos tempo. Se isso é bom ou ruim, só os nossos netos é que vão saber.
 

para Giancarla Brunetto 15/03/2004

O que eu não concordo é com a palavra "meramente" qualificando os "fins comerciais" de uma campanha de lançamento: enquanto um filme está sendo feito, ele pode querer muitas coisas - contar uma história, influenciar pessoas, mudar o mundo. Mas, depois que ele está pronto, o que mais ele pode querer (até pra mudar o mundo, se for o caso) a não ser atingir o máximo de pessoas possível? Toda campanha de lançamento é basicamente (e não meramente) comercial.
 

para Sérgio karam 17/03/2004

Que o cara não goste de futebol é um direito. Mas isso não é motivo suficiente pra ser gremista.
 
 

para Roberto Tietzmann 23/03/2004

Do texto que tu transcreveste: "Caso vc esteja interessado, peça a fch de inscrição". Fch de inscrição??? Enquanto isso só acontecia nos chats (ou melhor, nos CHT'S), dava pra fingir que não era conosco. Agora já é oficial: Está em andamento uma revolução mundial que pretende banir as vogais! Não sei se é o supra-sumo do movimento pela simplificação da linguagem (lembram da novilíngua do Orwell, que era deliberadamente esvaziada de sutilezas para impedir o pensamento?) ou se é resultado de uma geração inteira com dificuldades de dicção por causa dos piercings na língua e do consumo excessivo de ecstasy. Peeeelaaaa Liiiibeeertaaaaçããããooo daaas vooogaaaiiis! Pela linguagem sem pressa. (mais uma causa perdida)
 

para Anna Silveira 24/03/2004

Não vi "A Paixão de Cristo" e não tenho nenhuma vontade de ver. Já conheço a história, não gosto de assistir longas e detalhadas torturas físicas e não me agrada nem um pouco essa mistura de religião, violência e sensacionalismo que eu pude identificar no trailer. Tu falaste em "impacto". Tem certeza que esse impacto vai durar até o semestre que vem?
 

para Liliana Sulzbach 14/04/2004

Só pra informar que, depois de mais de três anos comigo (desde 23/01/2001), o teu bravo IBM Thinkpad finalmente pediu água. Dessa vez ele perdeu o contato entre a CPU e a tela (uma espécie de Alzheimer, eu diria), e o cara da assistência técnica disse que não valia a pena insistir mais. (Aliás, eu já tinha ouvido algo parecido há algum tempo, mas a diferença é que agora eu concordei.) Queria saber se te interessam os restos mortais dele. Ou se posso enterrá-lo, com a pompa devida aos guerreiros, no lixo seco da rua Lauro de Oliveira.
 

para Fernanda Tonial 24/04/2004

Algum tempo atrás, meu filho me perguntou "como é que eu sabia tanta coisa?" Filhos, pelo menos até uma certa idade, costumam achar que os pais deles são sábios. Tive o cuidado de dizer que eu não sabia tanta coisa assim, que eu ainda passo boa parte do meu tempo tentando saber mais, e que praticamente tudo o que eu sabia eu tinha aprendido lendo livros. Pois aí o guri retrucou: "então, por que é que a genta precisa ir à aula?" Tive a sorte de, na hora, aparecer uma boa resposta: pra descobrir que livros a gente precisa ler. Claro que não é tão simples assim, meu filho já sabe disso, mas acho que um bom professor é, entre outras coisas, aquele que consegue indicar boas leituras sobre determinados assuntos, ou resumir suas próprias leituras para os alunos, ou ainda, e principalmente, desenvolver nos alunos o gosto de ler e aprender.
 

para Sérgio Galvani 13/05/2004

O que um filme precisa ter para chamar a atenção do publico ? Muita inteligência. Ou nenhuma. Depende do público.
 

para Lúcia Carolina 14/05/2004

Lembro que, na época [1981], eu escrevi alguma coisa sobre Bergman, Fellini e Buñuel serem os diretores de cinema mais importantes da história. Mas eu e meus amigos já tínhamos descoberto também os americanos contemporâneos - especialmente Woody Allen, Coppola e Scorsese. Graças ao Instituto Goethe, a gente na época via também muito filme alemão contemporâneo: Herzog, Fassbinder, Schlöndorf. E, nos ciclos do Bristol, organizados pelo Romeu Grimaldi e depois pelo Tuio Becker, a gente ia descobrindo coisas mais antigas como Robert Altman, John Huston, Michelangelo Antonioni. Mas pra mim, de alguma maneira, os filmes do Kubrick ("2001", "A Laranja mecânica", "Doutor Fantástico") estavam acima de tudo.
 

para Jener Teixeira 01/06/2004

Deixa o pessoal da ABL tomar o chazinho lá deles, que é isso que eles sabem fazer. Eu uso a palavra "sítio" porque significa exatamente o mesmo que "site", tanto na internet quanto fora dela. O Houaiss (que também foi da Academia) define "site" mas recomenda "sítio". Acho pouco provável que vingue, mas eu continuo usando.
 

para Fernanda Albuquerque 19/06/2004

É claro que existem filmes tradicionais, é claro que existem filmes experimentais. O que eu não aceito é que esta seja a única classificação possível, que um filme não possa ser as duas coisas ao mesmo tempo, que não existam milhares de outras possbilidades que dialoguem com essas duas. Aliás, será que algum adulto hoje em dia ainda acredita que é possível inovar ou experimentar sem conhecer a tradição? Como disse o genial arquiteto catalão Antonio Gaudi, "originalidade é a volta à origem".
 

para Paulo Boccato 16/07/2004

Você viu o filme "Milou em maio" (em português acho que era "Loucuras de uma primavera"), do Louis Malle? Em pleno maio de 68, um grupo de pessoas no interior da França não entende bem as notícias que chegam sobre a "revolução" e decretam o fim da propriedade e o amor livre. Dura pouco, mas eles se divertem por alguns dias. Tenho a impressão de que o pessoal aí não entendeu exatamente o que é (ou pode ser) o governo Lula.
 

para Carlos Gerbase 11/08/2004

Finalmente, depois de uma semana de bombardeio, nossa imprensa começa a reconhecer que, puxa vida, que curioso!, tem gente que apóia o tal projeto da Ancinav, mesmo depois de a gente ter cumprido tão bem o nosso dever de imprensa livre numa sociedade democrática, ao mostrar a eles como eles foram ameaçados por mais essa tentativa de sovietização do país. Enfim, como poderia ter dito Walter Burns (personagem de Walter Matthau em "A Primeira página"), quem é que lê notícia de uma semana?
 

para Ney Gastal 15/08/2004

Nunca votei no Ibsen Pinheiro, mas sempre o admirei, como político e como dirigente esportivo. Na época do processo de cassação, li o que foi publicado a respeito e me convenci da inocência dele. Nunca tive dúvida de que ele foi cassado por motivos políticos, e não por suposta evidência de corrupção. E que, sem a capa da Veja, aquilo muito dificilmente teria tido o mesmo desfecho. Agora, o relato feito pelo repórter que assinou a matéria da Veja me deixa, sim, estarrecido. O que eu vejo nessa história, além dos óbvios banditismos do Waldomiro Diniz e do Benito Gama (isso sem falar na cumplicidade da tropa de choque do Collor e na covardia geral do Congresso, que não chegam a ser mencionadas), é a irresponsabilidade e a arrogância da grande imprensa, no caso personificada na Veja e no seu repórter "arrependido", que bem poderia ter contado tudo isso há 10 anos.
 

para Marcelo Oliveira 29/08/2004

O cinema brasileiro hoje vive cercado de preconceitos. Se a fotografia é bem trabalhada, o filme é "publicitário". Se a montagem é dinâmica, é "vídeo-clipe". Se o roteiro é bom, é "hollywoodiano". Agora, se os atores são bons e conhecidos, é "televisão". Claro que existem filmes com uma estética que pode ser chamada de publicitária (alguns de Alan  Parker, por exemplo), ou com ritmo e personagens de vídeo-clipe (é só ver Oliver Stone), roteiros sydfieldianos bem estruturados e vazios (acabei de assistir "Garfield" com os meus filhos) e mesmo interpretações e estruturas dramáticas de televisão (lembro daquele italiano, o Tornatore). Mas, pra alguns críticos de hoje, um filme feito no Brasil e por brasileiros só merece o título de "cinema brasileiro" se for ruim.
 

para Jorge Furtado 30/09/2004

Impressionante! O Estadão está fazendo uma enquete sobre "Os melhores filmes brasileiros da retomada". Listaram 68 (sessenta e oito) filmes para o pessoal votar. Nenhum gaúcho. Ou melhor: tem O Quatrilho, filmado aqui. Além de 5 filmes da Xuxa, que afinal nasceu em Santa Rosa. E, claro, lá no final tem a opção "outros". Acho que temos que pedir a inclusão do RS entre os países do Mercosul. Pode ser que assim o Estadão descubra que a gente existe.
 

*praticante do solitário vício do missivismo

 

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