SUPER8 E DEPOIS
*luiz_roque_filho |
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Na virada dos anos 90, Porto Alegre,
era o grande centro produtor de cinema super8 do Brasil. Dezenas de filmes
montados e sonorizados em película eram projetados no Festival de
Gramado. “Super8 gaúcho” virou uma espécie de subcategoria,
quase um gênero dentro da cinematografia curta brasileira. A suposta
autonomia desse centro foi tão grande que o Festival de Gramado
vetou durante três anos a participação de trabalhos
não-gaúchos.
Existia alguma semelhanças entre esses filmes ? De fato muitos deles eram similares, tentando reproduzir uma atmosfera cinematográfica muitas vezes incompatível com a bitola. Talvez essa postura se espelhasse nos bens sucedidos filmes (principalmente os longas) feitos por Giba&Gerbase nos anos 80 ou simplesmente talvez pela referência de cinema de curta-metragem disponível na cidade. Foi um “movimento” estritamente ligado ao local, espécie de bairrismo tão popular no Rio Grande do Sul. Passada a euforia da produção do Super8 gaúcho, do qual animadamente fiz parte, penso que a defesa e a manutenção da feitura desse precário cinema está fundamentalmente ligada a uma idéia de tradição e independência que está na natureza de nossa sociedade. A idéia do NOSSO exerce um fascínio sobre os gaúchos e a possibilidade do EXCLUSIVAMENTE NOSSO é praticamente a glória. Era unanime que não se poderia fazer cinema com vídeo e que o super8 representava uma alternativa ao cinema no fim dos anos 90. Quase todos os realizadores tinham sua própria câmera super8 (algumas verdadeiras raridades e em perfeito funcionamento) enquanto as práticas e usualíssimas câmeras de vídeo eram privilégio de poucos. O fortalecimento dessa prática se dá nessa atmosfera de bairrismo, para não dizer grossura. Acredito que essa falsa supremacia e exclusividade tenha travado um pouco o desenvolvimento da linguagem do vídeo por aqui. Afinal, além de considerado “arte povera”, o vídeo não era uma ícone da cultura underground gaúcha. Pouco ou nada se via de linguagem videográfica em Porto Alegre, salvo alguns eventos como o Cinemeando no Garagem, exibições de filmes&vídeos coordenada por dois cineastas gaúchos que acabou quando um deles começou a trabalhar com bitolas mais profissionais provocando um certo descontentamento no outro. Essa postura gerou uma grande defasagem no cinema gaúcho que hoje vê que o vídeo também é cinema, talvez se dando conta que cinema é uma questão de espaço expositivo e não de linguagem ou técnica. Outras regiões como Minas Gerais, por exemplo, realizam desde meados dos anos 90 uma séria pesquisa videográfica. O curioso é que a imagem Super8 é muito explorada por vários desses realizadores que usam o suporte como apoio e não como condição. Por aqui, os poucos que conseguiram tirar proveito das especificidades/deficiências da bitola não levaram essas pesquisas adiante transformando esses filmes em peças meramente visuais e gratuítas. Cineastas como Cao Guimarães, Lucas Bambozzi e Kiko Goifman são egressos dessa formação híbrida e considerados autores que estão de certa forma oxigenando o sistema de produção do longa-metragem brasileiro. Usando o vídeo como meio principal conseguem viabilizar interessantes projetos e fugir dos orçamentos milionários dos longas, que em termos de idéia e criatividade ainda devem muito ao vídeo. Isso é uma alternativa para
o cinema gaúcho (ao menos para minha geração) que
agora parece estar madura para filmes com duração superior
a 15 minutos mas muito ligado ao esquema oficial de produção.
Esse método de produção é necessário
para muitos roteiros, mas as vezes fico pensando no filme uruguaio 25 WATTS,
feito de maneira parecida aos primeiros longas gaúchos, aqueles
em Super8.
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*artista multimídia
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