O DESLOCAMENTO
*patricia_francisco |
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O processo migratório no Rio
Grande do Sul ocorre eventualmente por motivos diferenciados, alguns gaúchos
precisam ou sentem necessidade de migrar para outras cidades brasileiras,
onde percebem o fluxo de identidade de cada lugar do Brasil.
A identidade gaúcha, nem sempre sutil, seja na fala e/ou no comportamento é facilmente identificada por outros brasileiros. A auto afirmação dos gaúchos reflete-se no seu discurso em qualquer momento. É a maneira com que a pessoa se coloca que o faz perceber sua identidade. Não é a alegoria, como o chimarrão, a bombacha ou outro elemento qualquer. É o comportamento e o seu discurso perante o contexto nacional que constrói sua identidade. Morar em Porto Alegre, São Paulo ou Rio de Janeiro não faz a diferença. A diferença está na pessoa, é você saber que não importa qual cidade brasileira você está morando, você não perde sua identidade. Não é o lugar que vai te fazer mais ou menos gaúcho ou carioca, é você ter consciência de que você pode ser gaúcho em qualquer lugar do Brasil, sem precisar dizê-lo, sem se sentir subestimado ou se auto superestimar. Movimentos migratórios são necessários para as pessoas, porque há o intercâmbio com outras culturas, percepções e mudanças em relação a outros pontos de vista. O gaúcho precisa permitir essa mudança, senão essa migração é falsa. Esse é um outro ponto, o quanto os gaúchos permitem-se a mudanças. Que tipo de comunicação é estabelecida ? Quando os gaúchos conseguem ser brasileiros ou se permitem serem brasileiros ? Parece que poucas vezes ele é bem sucedido nesse sentido. O gaúcho se auto afirma como produtor de sua própria cultura e julga ela suficiente para dar conta do extremo sul do país e com legitimidade e respaldo em si mesma, como se não precisasse do resto do país. Assim, o que o gaúcho produz, primeiro é gaúcho e depois é brasileiro. Diferentemente das cidades do centro do país que atribuem à sua cultura um caráter imediatamente nacional, como por exemplo, o produto carioca ser considerado nacional. Tanto o gaúcho não sabe o que acontece no centro do país, como o centro do país não sabe ou sabe pouco sobre a produção sulista. A distância geográfica o torna por vezes arrogante e ao mesmo tempo com estigma de rejeição, o que parece às vezes falta de comunicação baseada em falta de interesse de se relacionar. Esse afastamento de território é que parece gerar a arrogância e a rejeição do povo gaúcho. O retorno ao sul é importante, porque através dele que teremos o feedback da pessoa que mora no sul do Brasil já misturada e se dando conta de quanto o gaúcho não faz parte da cultura brasileira de uma forma direta. A identidade gaúcha é construída separadamente, depois incorporada à identidade brasileira, mas a diferença é que ela é incorporada de maneira separada. Eu construo a União.
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*artista visual
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