E AGORA?
por Antonio Candido
antoniocandido61@hotmail.com


Ser policial era um sonho antigo de Nestor. Queria fazer investigações, descobrir pistas, solucionar crimes, prender bandidos. Passou no concurso, entrou na academia, formou-se. Ganhou arma e insígnia, foi trabalhar numa delegacia.

Ficou satisfeito, achou que era um bom lugar, havia muito o que fazer. Mas já estava lá havia uns meses e sua tarefa mais importante tinha sido entregar intimações para depoimento. Até aquela tarde.

- Vem comigo, Nestor.

Alíbio era um comissário respeitado, tinha fama entre o pessoal. Ser chamado por ele para uma missão só poderia ser coisa boa.

***

A viatura entrou numa rua pacata de um bairro residencial, onde nada parecia acontecer. Alíbio estacionou em frente a uma casa.

- Fica de olho aí. Eu já volto.

Ficar de olho em quê? Não parecia que houvesse perigo. O comissário simplesmente caminhou até uma casa, tocou a campainha. Abriram a porta e ele entrou.

***

- Tudo tranqüilo?

Nestor foi surpreendido pela voz de Alíbio. Nem tinha visto o outro sair da casa e vir para o carro. Dá um sorrisinho amarelo, enquanto o colega abre a porta e entra.

- Até demais - faz uma cara de quem está de saco cheio.

- Queria o quê? Tiroteio? Não reclama da boa vida, rapaz.

Nestor se vira para o outro, surpreso. E vê o grosso envelope que Alíbio tira de dentro do casaco. O comissário abre o pacote, enfia a mão, tira um pequeno bolo de dinheiro, preso com uma borrachinha.

- Conta - diz ele, entregando as notas para Nestor.

O jovem policial confere rapidamente. Olha para o outro.

- É teu.

- Que dinheiro é este? Aqui tem uns seis meses de salário.

- Pra você ver. Agora você é dos nossos.

- Que “nossos”? Pra que isto?

- Pra você ir se acostumando. Enquanto você não for efetivado na polícia, fica vindo aqui comigo, toda semana.

- E depois?

- Depois, você é que vai recolher a grana e levar pro delegado. E fica com uma parte, como pagamento pelo serviço.

O rapaz arregala os olhos, faz cara de espanto. O colega dá uma risada, põe o envelope no bolso. Calado, Nestor sente o volume de notas na sua mão. Todo aquele dinheiro, numa tacada só.

- Guarda logo isso, cara. Graninha fácil. Não te faz.