ITENS ENVIADOS (11)
por Giba Assis Brasil
giba@portoweb.com.br
para Luis Felipe Silveira Difini 24/01/2006
Dou aula na UFRGS desde 1994 e na Unisinos desde 2003. E, esta semana,
com muito pesar, estou assinando minha exoneração da
UFRGS. Por isso, infelizmente, não vou dar aula pro teu guri.
Minha opção é um pouco pelo salário, claro.
Como não tenho mestrado nem dedicação exclusiva, o
que a UFRGS me paga não cobre nem a mensalidade do Anchieta de
um dos meus dois filhos. E a Unisinos (pelo menos por enquanto) me paga
bem mais que isso pra ir lá uma vez por semana.
Mas não é só o salário. Alguns anos
atrás recusei uma proposta bastante vantajosa da PUC porque
achei que ainda não tinha pago a minha dívida com a
Universidade Pública, que me formou. A grande vantagem da
Unisinos é que é um curso de Realização
Audiovisual, para quem quer fazer isso na vida. Um curso que eu
gostaria de ter feito 20 anos atrás, e que eu ajudei a montar e
estruturar desde o início, em 2002.
E o principal de tudo é que a LOVE (Lei Orgânica da
Velhice) me impede de acumular mais de dois empregos quando o
cinqüentenário se aproxima (e a necessidade não
obriga). Mas vou sentir falta dos alunos da UFRGS.
para Milton do Prado 14/03/2006
"Genius (poetry) is 1% if inspiration and 99% of transpiration."
Eu também tinha a impressão de que a frase
(começando por "poesia") era do Edgar Allan Poe, mais
especificamente da "Filosofia da composição". Mas o
Google aponta pra milhares de páginas começando por
"gênio" e dando a autoria pro Thomas Edison. Seria mais uma
invenção roubada pelo grande falsificador americano?
Será que, no fim das contas, esses percentuais dizem respeito ao
que ele realmente inventou em relação ao total da fama?
Provavelmente não. Encontrei o texto original completo da
"Filosofia da Composição". Não tem nenhuma vez a
palavra inspiração, que dirá
transpiração.
para Antenor Pacheco 31/03/2006
Sempre achei que o PT não deveria tentar se diferenciar dos
outros por questões morais, e sim por posições
políticas. Aquela pose histórica que o PT assumiu de
"único guardião da ética na política" pode
ter sido taticamente importante, pra conquistar votos na classe
média, mas agora se vê que foi um desastre
estratégico: o partido está sendo massacrado não
pelo que ele fez (que não foi pior que os outros), mas pelo
contraste com a imagem que ele tinha construído pra si mesmo.
Sim, o PT foi construído por seres humanos, portanto está
sujeito a todos os problemas que acometem qualquer agrupamento humano,
principalmente quando cresce muito rápido e/ou quando chega a
alguma posição de poder. Essa constatação
dói, nos deixa sem referências, mas talvez a longo prazo
ela seja positiva.
para Imara Reis 05/04/2006
Minha primeira impressão é de que a
indicação do Alckmin no lugar do Serra é
péssima pro país - a tendência é que ele
puxe toda a campanha (inclusive a do Lula, claro) pra direita.
Será que não?
para Clóvis Borba, 07/04/2006
O problema dos 49 é que eu, com a minha mania de fazer contas,
tava gostando muito dos 48, que dá pra dividir por 2, por 3, por
4, por, 6, por 8, por 12, por 16 e por 24. Descobri que isso é
ótimo pra fazer inventários: metade da minha vida eu
passei em tal situação, 1/6 dela eu morei em tal lugar,
etc. Espero chegar aos 96, que é a única possibilidade de
vir a ter ainda mais divisores. Enquanto isso, vou ter que descobrir
que todas as coisas que duraram 7 anos já são 1/7 da
minha história.
para Jorge Furtado 14/04/2006
"Acho que a frase 'leitura obrigatória' é um contra-senso. A leitura não deve ser obrigatória. (...)"
(Jorge Luis Borges)
O texto é bom (acho que
eu já tinha lido, ou então alguma coisa muito parecida),
mas é falacioso. Um escritor pode dizer isso pros seus leitores
(até porque eles já estão lendo), mas um professor
não pode dizer isso pros seus alunos. Fazer ginástica
dá prazer, mas ficar sentado na frente da televisão
também. A armadilha hedonista do "faça apenas o que te
der vontade" (Aleister Crowley e Raul Seixas diziam "faz o que tu
queres pois é tudo da Lei") não se sustenta como
ética, nem como política, nem muito menos como
didática. Até o prazer de ler Borges não é
espontâneo, tem que ser aprendido. E o velho sabia disso muito
bem.
para Jorge Furtado 28/04/2006
Ontem fui ao Rio e, no vôo de ida, tinha um cara do meu lado
lendo a Veja. Pelo que eu pude perceber pelo rabo do olho (e não
vou conferir), a tese desta semana é a seguinte: a
auto-suficiência em petróleo na verdade é um
fracasso do governo Lula porque, se a economia tivesse crescido como
deveria, o consumo seria muito maior. "Copo meio cheio, copo meio
vazio, depende de quem é o copo, e vai pra puta que o pariu!"
para Débora Peters 09/05/2006
Lembra do "Era uma vez na América"? O Noodles (personagem do
Robert de Niro), depois de ter provocado a morte dos seus três
amigos, passa 30 anos desaparecido, e de repente volta a se encontrar
com a ex-namorada (que, aliás, se chamava Deborah), agora uma
atriz famosa. Eles se encontram no camarim, depois do
espetáculo. Ela, com a cara carregada de maquilagem, parece
não ter envelhecido nada, ao contrário dele, cujo rosto
virou uma passa de uva. Então ela pergunta: "Por onde você
andou esse tempo todo?" A resposta dele é antológica:
"Tenho dormido cedo."
Pois eu não.
para Imara Reis 14/05/2006
Achei muito engraçado [os calouros do programa "Ídolos" tentando cantar o "Ouviram do
Ipiranga"]. Mas, como montador, sei como é fácil fazer
aquilo: junta 600 pessoas de qualquer país e manda elas cantarem
o hino nacional; sempre vai ter uns 10 que não têm a menor
idéia, uns 50 que sabem pouco e uns 200 que, apesar de
conhecerem o hino inteiro, vão vacilar na frente da
câmara. Aí é só colocar as vaciladas uma do
lado da outra. Parece que a nação inteira é de
débeis mentais - uma idéia que não me atrai, por
mais que às vezes eu ache que ela é correta.
para Berenice Mendes 31/05/2006
Muito triste essa notícia [a morte do Daniel Herz], por mais que fosse, já
há algum tempo, esperada. O Daniel lutou pela vida como lutou
pela democracia. Perdeu uma batalha. Cabe a nós continuar a luta
dele pra que um dia se possa dizer que ele não perdeu a guerra.
Lembro de, 10 ou 15 anos atrás, ouvir uma de suas muitas
palestras sobre como poderia ser a democratização dos
meios de comunicação no Brasil, com aquela
segurança de quem conhece o assunto, o entusiasmo de quem
acredita que as coisas podem mudar, a tolerância pra ouvir os
pontos de vista contrários e tentar encontrar espaços de
negociação - e pensar, e comentar: se um dia o Lula for
eleito presidente, o Daniel Herz tem que ser o Ministro
das Comunicações desse país.
Essa é mais uma que o governo Lula ficou nos devendo.
para Flávia Matzenbacher 05/06/2006
Tenho ainda alguns discos (LPs) do Ednardo. Ele era do chamado "pessoal
do Ceará", uma turma que apareceu em Fortaleza lá por
1973, junto com Fagner, Belchior, etc. Ednardo é o autor de
"Pavão misterioso", que foi trilha da novela "Saramandaia", isso
lá por 1977. Fez uns 3 ou 4 shows em Porto Alegre nessa
época, e esteve no "Cio da Terra", encontro da juventude
gaúcha, em Caxias do Sul, 1982. Foi também o primeiro a
gravar a música do Belchior, "A palo seco", que quase dá
pra dizer que é um dos hinos da minha geração: "Se
você vier / me perguntar por onde andei / no tempo em que
você sonhava / de olhos abertos lhe direi: / amigo, eu me
desesperava..." Conhece?
para Halina Andrade 05/06/2006
"Espírito da APTC" pode ser o espírito associativo, essa
coisa de militância, de ver o cinema como campo de batalha de
idéias, de luta coletiva, etc. Claro que, se essa
história do "estado de espírito" for levada às
últimas conseqüências, vai terminar justificando o
paraibano que chega em Santa Catarina e diz que é representante
da ABD de Roraima. Assim não dá, né? Isso
só faz sentido se tiver mais gente por trás, e gente
fazendo e discutindo cinema, coisa que aqui a gente só foi ter
com a criação da APTC em 1985.
Se o "espírito da APTC" foi esquecido, é porque os tempos
são outros, as pessoas não se reúnem mais, acham
que podem resolver tudo por e-mail, pensam que tudo o que a APTC
conseguiu nesses 21 anos sempre esteve aí, que não foi
preciso batalhar pra conseguir, ou pior: que vai estar sempre
aí, que não corre o risco de desaparecer, que não
precisa de batalha nenhuma, ou pior ainda: que sempre vai ter
alguém (que não eu) pra fazer isso por mim.