CIDADE LIMPINHA
por Lulit
lulit@terra.com.br


A bonita Porto Alegre está perdida politicamente no momento. Nos escritórios, bares, academias e lares, não há mais o mínimo consenso na avaliação dos governantes e possíveis candidatos às eleições no país, no estado e na cidade. Um niilismo profundo e compreensível, com a conversa de que "político é tudo ladrão mesmo e não adianta votar em ninguém", contrastando ao mesmo tempo com uma imensa fila de jovens de dezesseis anos nos Tribunais, querendo votar pela primeira vez. Como uma cidade, que sediou o Fórum Social Mundial, pode retroceder tanto? Pela primeira vez na história da cidade, nossos hotéis, restaurantes e bares ficaram lotados de gente discutindo e tendo idéias até altas horas da madrugada. Com o Brasil não figurando apenas nas sessões de violência do cotidiano do Le Monde e sim como sede de importante discussão política. Estrangeiros que adoraram vir a Porto Alegre, chamando nossa pacata cidade de paraíso, como está registrado nas fitas que gravei do primeiro evento. Mistura de índios, com feministas, com budistas e umbandistas, reclamando seus direitos. Meu desencanto com a falta de graça da cidade é total. Ainda bem que o Em Cena perdurou, assim como o Largo Glênio Peres, que quase dançou outro dia. O Banrisul, que cogitaram vender, também segue firme, dando lucros imensos, que espero que fortaleçam nossa ressecada agricultura. Pra completar minha melancolia, saio outro dia por volta das 10 da noite para ver uma locação perto da Rua Voluntários da Pátria. Me senti na Tailândia, mas com praia de lago poluída. Encontrei garotas de dez, doze, quinze anos consumindo e vendendo drogas pesadas na rua e o que é pior de tudo, algumas vestidinhas como prostitutas mirins e com batom. Minha revolta de mãe foi tamanha, que pensei: vou no juízado agora e esses caras vão ter que dar um jeito nisto. Meu companheiro disse: o que tu acha que vai ser feito com elas, se a polícia baixar aqui? Tu quer que joguem elas na Fase (ex-Febem)? Não quero. Bom, fui pra casa dormir, desesperançada, sem discutir política e sem conseguir fazer nada em prol da evolução social desta misery town que já teve seus maravilhosos momentos de fama. Viva o anarquismo!