MÚLTIPLOS MARIOS NO CENTENÁRIO
por José Weis
zeweis1958@hotmail.com


Episódio

Quando tinha 25 anos incompletos,
inventou de ser voluntário
Logo o Mario, disseram,
metido numa revolução
que, estava na cara,
não era a sua
Mas não, tinha que estar lá,
de mosquetão na mão
Provinciano uma única vez,
foi para o Rio e
quase ninguém o viu
Naquele tempo nem mesmo
o anjo Malaquias lhe valeria.


Moca

Dois momentos nuns cafés:
chovia na horta dos olhos do bardo
e desta vez não eram lágrimas

Naquele café - ficou uma fotografia-
inebriado de paixão, Mario fitava Cecília:
- “Amada, não te esqueças, sou poeta,
trago um olho atento ao estranho
e outro sempre fixo na razão”.

Que motivo teria o poeta Pessoa
para faltar àquele encontro com
Cecília, noutro café, em Lisboa?

Mesmo alguém tenha escrito tudo
a seu respeito, quando a musa é poeta,
mesmo que bata forte no peito,
tantas vezes sequer é ouvido
esse amor fadado ao olvido.


Peregrinos

Discretos, entre outros objetos,
ali estão os sapatos do bardo,
já não o acompanham, agora,
a poeira nas solas,
a exemplo do dono, encantou-se

Qual foi a última vez que o poeta os calçou?
Em qual rua teriam caminhado?
Encontraram alguma esquina esquisita?
Combinavam com suas meias
ou o vate distraiu-se com a lua cheia?

Tudo o que se sabe destes sapatos
é que são testemunhas de um fato:
com quantos passos se faz um poema.


Sacada

Mal raiava o dia e logo
Vinha uma alba leonina
um aurora tigresa
uma pantera curva de luz solar

Daquelas que Quintana
Denominava ou dominava?
Devorava ou abominava
cada uma delas?

Como toda e qualquer
musa matinal,
felina ou amada
a rondar sua janela.