PLONGÉE
por larissa bueno ambrosini
larissabueno@gmail.com
mando uma nota do livro de amenidades absolutas. pq tanta coisa
relevante pra escrever, mas tudo tão torto q dá um bruta
desânimo começar... tarefas hercúleas em tempos de
katrinas íntimos e públicos... tempo, tempo. perdi isso
em algum lugar.
vai em anexo, com foto do vampiro de dusseldorf - 'essencial' para ilustrar...
cenário: mariazinha, 28, morena, sentada no sofá vermelho
da sala de estar do seu apartamento classe média [luz de fim de
tarde], tranqüilamente cerzindo [nota do tradutor: cerzir = do
latim, sarcire, coser um tecido, de forma que se não notem as
costuras. no caso, aqui, uma bermuda caqui - dessas bem apropriadas a
programas tipo saffaris nas savanas africanas.... hã?].
cena doméstica retratando uma tarefa assaz banal para uma moça prendada. mas...
mariazinha
NÃO
é
uma
moça
prendada.
bem q eu vi, os cabelos não enganam! oh! o semblante concentrado
da mulher na verdade dissimula a tensão do ambiente fumacento do
seu centro mental de decisões sobre, entre outros, o melhor
lugar para enfiar agulha...
vejamos
mais
de
perto:
zoom na mulher. mais, mais. close-up. mais. mais. entra no cérebro dessa maluca.
ali estão eles.
o alto comando cerebral... ambiente carregado - nervosismo, ironia,
nicotina, insegurança, deboche, nicotina... discutindo a melhor
estratégia para tapar o furo: não há qualquer
registro desse tipo de tarefa em seu menu sortido de habilidades.
pergunta [cretina]: sabemos fazer isso?
resposta [apaziguadora]: claro q sim. em tese, em tese.
réplica [irônica]: me caiu os butiá dos bolso....
tréplica [blasé]: um cigarro?
retomando: a teoria é elementar, ridícula. é como fazer uma teia.
pergunta [estúpida]: teia?
resposta [impaciente]: teia, teia! como as aranhas...
comentário [desnecessário]: aranha, aranha. consegue ligar o nome à pessoa?
retomando: alinhava-se as bordas do furo, sempre em
oposição, e depois preenche-se os espaços vazios
com linha, e mais linha... até cobrir o maldito buraco.
pergunta [cretina]: vai ficar bom?
resposta [imbecil, pero sincera]: vai ficar une grand mérde. mais elle ne s'importera pas...
réplica [cruel, pero mui lúcida]: até vestir essa
mérde, e andar com esse feijão bege a enfeitar suas
nádegas...
pergunta [a que não quer calar]: onde será q foram parar as cerzideiras desse mundo?
suspiro...*
* as cerzideiras desse mundo foram engolidas pelo lado negro da
força. hj elas passam o dia cerzindo panos de
guarda-chuvas-intactos-sem-dono na décima primeira
dimensão, vulgarmente, pero no injustamente, conhecida como: a
dimensão dos guarda-chuvas ‘perdidos’.