REVELAÇÕES
por Antonio Candido
antoniocandido61@hotmail.com
O pássaro madrugador apanha mais minhocas.
Já a minhoca madrugadora...
É comum se ouvir — e se falar — que o poder corrompe.
Millôr Fernandes, inclusive, escreveu que o poder corrompe e o
poder absoluto corrompe absolutamente. Eu prefiro pensar que o poder
revela.
Há uma gritaria plenamente justificada contra políticos e
funcionários públicos denunciados por
corrupção, sejam fortunas ou merrecas. Mas eu gostaria de
saber como cada um de nós reagiria se estivesse no lugar desse
pessoal. É muito fácil alguém afirmar que é
incorruptível se nunca foi tentado a corromper-se.
Não vou entrar em casos horrivelmente escabrosos como desvio de
verbas destinadas à saúde ou à
educação. Mas, imagine que alguém lhe oferecesse
uma boa grana para dar uma mãozinha a determinada empresa numa
concorrência pública para fornecimento, por exemplo, de
material de escritório. O que você faria?
E tem ainda outra questão. Será que, entre todos que
vivem reclamando da corrupção no poder público,
nunca ninguém ofereceu dinheiro para que um policial, guarda de
trânsito ou fiscal fizesse vistas grossas para alguma
irregularidade?
Diz a lenda que, séculos atrás, um nobre da corte do rei
da França ofereceu um zilhão de francos para uma bela
dama, em troca de uma trepada. Surpreendida, a cortesã refletiu
rapidamente, pensou no que poderia fazer com aquela dinheirama e
aceitou.
- E por um franco, você passaria a noite comigo?
- Um franco???!?!!!? O que você pensa que eu sou? — respondeu, indignada.
- Ora, isso já ficou claro. Só estamos negociando o preço.