Beijo
por Miguel da Costa Franco


Reconhecemo-nos:
nossos olhos,
doces magnetos.

Batedores ousados, teus dedos
Escalaram as sendas do meu peito,
invadiram a selva rasgada dos meus cabelos.

Capitã dos nossos desejos, salpicaste
luminescências sobre um corpo
sensível ao canto das sereias.

Estranhamente, o teu cheiro
não era de mar; tinha, sim,
um quê de jasmim-estrela.

Me entontecias.
Me afogavas.
Me puseste mareado.

Feixe de labaredas, a carne rubra,
arrulhaste impossibilidades
e promessas afobadas.

A dor difusa da incompletude
Invadiu-me o corpo,
lenta, vã, inexorável.

Tua boca era um vulcão aceso.
Minhas ânsias por ti,
me deixavam sem ar.

Trocamos um único beijo
antes de partires, longo,
ardoroso, promissor.

Infecto e mortal,
como vim a saber
depois.



Miguel da Costa Franco sempre foi escritor, mas agora que se aposentou do BB ninguém segura. Romances ("Imóveis paredes", 2015), roteiros ("Doce de mãe", 2014), contos ("Não romance", 2018), poemas. É da turma fundadora do NÃO.