| Historinha militar por José Beltrame Vou contar uma historinha - verdadeira - sobre milicos. Na faculdade de medicina tínhamos um aluno que era militar, capitão do exército. Se chamava Ivan. Não lembro do sobrenome. Ele ia para a faculdade com roupas comuns, e embora estivesse na faixa dos quarenta anos em meio a jovens na faixa dos vinte, ninguém o tratava por "senhor". Era "tu" pra lá, "tu" pra cá, e todo mundo conversava com ele normalmente. Este oficial devia comparecer bem pouco ao quartel, porque tínhamos aula de manhã e de tarde. Aqui abro um parêntese: eu só pude fazer o curso porque meus pais me sustentavam sem que eu precisasse trabalhar, ao contrário de muitas pessoas que não tiveram esta oportunidade. Tive uma grande vantagem, isso sim. Então, vampará, meritocracia meuzôvo! Fecha parêntese. Pois então: fui convocado para "servir à pátria". Tive que ficar uns dois meses na condição de "Aspirante a Oficial", fazendo um curso básico (atirar de fuzil etc), e depois fui para o hospital militar com o posto/cargo de "Segundo Tenente Médico R-2". No hospital atendíamos desde o soldado raso que se feriu numa manobra até os oficiais e suas esposas e filhos. Eu tratava de fazer meu trabalho da melhor maneira possível, até que num belo dia vi entrando no hospital um oficial num flamante uniforme cheio de estrelas, e vi que era o Ivan, até bem pouco tempo atrás meu colega de aula. Pelas estrelas e divisas vi que ele tinha sido promovido de capitão a major. Me aproximei para cumprimentar, e disse algo como "Tudo bem, Ivan?". Ele me fulminou com um olhar gélido e disse: "Ivan não, é Major Ivan. E trate de bater continência". Fiquei chocado, paralisado. Então sorri, achando que ele só podia estar brincando. Não estava. Isto diz muito sobre a minha ingenuidade de achar que um garboso oficial superior iria falar com um mero tenente, mas diz muito, e muito mais, sobre a mentalidade militar. Bati continência, e me afastei sem dizer mais nenhuma palavra. FIM Moral da história: MILICO É MILICO. |
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