Relatos da pandemia 1 por King Jim Fiquei procrastinando para escrever pro Não. Em dúvida entre vários assuntos, acabei não optando por nenhum. Até porque não tenho o hábito de escrever em notebook. Não tenho um. Só uso celular mas escrevo mesmo em cadernos e blocos. A maioria das vezes idéias para músicas. As vezes escrevo andando. Tenho bloquinho no bolso da camisa. Depois só eu consigo entender o q está escrito. E olhe lá. Sou toscão em relação à tecnologia. Mas me disponho a aprender. No meu ritmo. Até março tava levando a vida como era possível. Tenho asma severa, sou transplantado com imunidade baixa, diabético e tenho pressão alta por conta dos medicamentos para evitar a rejeição do fígado de uma mulher q tenho comigo. Por isso está tendo sessões de tênis (que pratiquei bastante quando jovem), hidroginástica no Caixeiros Viajantes (acho bem poético o nome), fazendo exames de rotina (alguns médicos especialistas são meus amigos pelo whatsapp, sou uma espécie de cobaia íntima), vivendo o máximo possível em família (tenho uma neta q é uma explosão de alegria, uma das melhores coisas q já me aconteceu), fazendo shows e gravando com os amigos. Tô cuidando pra não cair no jargão "a gente era feliz e não sabia". Até porque eu sou e nem sei bem por que ainda. Também porque todos nós estávamos, como sempre, vivenciando nossos próprios dramas pessoais além de ter q lidar com esse governo q parece ser um escárnio do diabo pelas cagadas q um dia possamos ter feito. Na semana em q houve o "decreto oficial" da pandemia, eu estava em meio a gravações com vários antigos amigos. Uma em cada estúdio. Poderia virar um disco ou muitos singles. Fato é q eu estava muito feliz com a ideia e a tarefa ficou pela metade. Todas as músicas ficaram por finalizar em vários estúdios. Faltou inclusive, imagens de cada uma. Acho importante. Ficou claro q por um bom tempo eu não poderia tocar ou gravar com mais ninguém, já q não tenho equipamento em casa e ir a estúdios é arriscado, segundo os médicos. Toco sozinho em casa eventualmente. Mas fica claro q tocar em grupo com quem eu gosto de tocar, é uma das razões dos momentos de felicidade q eu possa ter. Me dei conta da mudança drástica de vida q eu teria. O quanto eu teria q cultivar a calma, tranquilidade e paciência. Dividir o espaço com minha companheira é algo q me ajuda muito. Nossa convivência é harmônica e incrivelmente equilibrada (ouço q muita gente tem desgastes no convívio nesse momento). E ela é ótima cozinheira. Uma verdadeira chef. O q me deixa com um certo sobrepeso. Logo entendi q teria q sair para realizar algumas tarefas inevitáveis. Tipo, ir buscar meus medicamentos na farmácia do Estado, fazer exames de rotina, levar minha esposa nos fóruns, fazer compras e outras coisas q vão surgindo. Tudo isso com muito álcool gel, máscaras e outros cuidados do tipo. Tive q sair algumas vezes para alugar o apto da minha mãe q faleceu e a ideia seria receber o mesmo q pago pelo plano de saúde. Quase deu. Tá complicado capitalizar grana nesse período. Dou muitas entrevistas para várias rádios. Lives não. O Gabriel Salomão do Gravador Pub me convidou para ser âncora no programa da página do pub. O Gravador é um dos melhores lugares q tem para se ouvir e tocar boa música na cidade. O equipamento e o tratamento é de primeira. Para manter o pub sem público, a família faz as melhores pizzas q conheço por aqui. A farinha é uruguaia e o tempero do quintal deles. Faço Programa daqui de casa. Remotamente. O som e a imagem são ótimos. Tem tido grandes atrações e papos bem interessantes. Num desses programas de entrevistas - O Volume, o meu amigo João Miguel Sampaio me entrevistou para contar histórias sobre o rock gaúcho. Especificamente sobre Garotos da Rua. Me perguntou se eu teria interesse em fazer uma pesquisa especial sobre os Garotos. Após pensar a respeito, lhe falei q sim, mas antes gostaria de pesquisar os pioneiros desse gênero por aqui. Então, através do Streamyard, entramos em contato com os grandes pilares do nosso rock em vários lugares do país, sabendo q nesse momento, só assim mesmo. Tive oportunidade de rever amigos q não via há muito tempo. Mimi Lessa, guitarrista do Bixo da Seda chegou a ser guitarrista dos Garotos da Rua quando o Justin foi pra LA no fim dos 80. Está sendo uma alegria conviver com essa turma experiente e pioneira de algo q se tornou tão importante para nossa cultura. Precisamos saber ainda como vamos formatar esse projeto para disponibilizar todo esse conhecimento para o grande público. Por enquanto optamos por chamar isso de "Cool Hall da fama". Uma piadinha com a palavra curral, já que é algo gaúcho. Hermes Aquino, Luís Vagner, Mimi e Marcos Lessa, Zé Flávio, Edinho Espíndola, Fuguetti Luz, Cláudio Vera Cruz, Bebeto Alves, Mr. Lee, Claudinho Pereira são alguns desses ricos personagens. Outra coisa a q me dediquei nessa etapa é construir um traje-cabine q me permita gravar dentro de um estúdio fechado em segurança, já q os médicos me pedem cautela para isso. Muita gente tem debochado de mim por conta disso mas tenho levado adiante o projeto q logo estará pronto e aí contarei os detalhes e o nome de pessoas q estão me apoiando. Por último, Los 3 Plantados (trio de músicos transplantados q tenho com Bebeto Alves e Jimi Joe e faz músicas para a doação de órgãos) foi contemplado em dois projetos governamentais e, como pessoas do grupo de risco, temos q solucionar nossa participação sem precisar o deslocamento para shows em outras cidades como previsto. Faremos, a princípio, uma apresentação gravada ao vivo no pátio do estúdio Porta da Toca, onde ninguém além de nós e dois técnicos, devidamente protegidos, nos gravarão. Creio q Los 3 Plantados é uma espécie de estágio artístico cultural social especial. Algo q muitos artistas gostariam de ter. Uma banda q tem uma causa à frente. Com uma mensagem q pode salvar vidas. E por isso espero q tudo dê certo. Porque sobreviver a esse vírus atendendo às regras da OMS, em contraste a esse governo negacionista, é um ato de resistência revolucionária. |
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