25 DE MARÇO DE 1978
 por Paulo César Teixeira (Foguinho)
Publicado originalmente no Não 29, abril de 1978
 
 
senhor editor, venho por meio desta dizer o seguinte: não é assim. não cometeu um erro muito grande quando disse que eu não gosto do testão. realmente eu acho um saco, mas vejamos por que: não publica todo o retrsaopecto do testão como se fosse tabelão do placar, cobertura da rede tupi em todo o território nacional. me disseram que o testão é um negócio de poder de uns sobre outros, mas eu esqueço isso, não percebo isso, ou melhor: percebo que o testão é um saco, só isso. assunto chato esse, porque testão é chato. e no entanto eu percebo desse jeito.

feelings no rádio, quem diria.

o tempo dividido em cigarros, fumando muito, ou pouco, mas contando os cigarros e o tempo. Nada pra fazer ou mesmo quando algo por fazer. não é assim.

eu gostaria de falar a respeito do não. não merece respeito. não é um jornal legal, não merece respeito, não é legal, não é muito bom, não permite um exercício de criatividade.

escreverei para o não. não está esperando por isso, eu sei. não se explica em seus editoriais. e de resto não fica naquele ponto em que depois de um tempo se sabe tudo o que vai tá escrito no não.

não é legal.

mas por outro lado meu cigarro já se acabou e eu não acendi outro, meu tempo tá truncado. feelings no rádio, tu vê.

why don't you write me? i'm hungry to hear you.

não cometeu um erro muito grande quando disse que eu não gostava do testão, pois vejamos: não é inteligente, não tem uma memória incrível, não diz as coisas no momento exato, não tem uma barra muito legal e muito perspicaz.

mas meu pai tá apavorado com o fato de eu escrever no escuro, mas meu pai não sabe que os cursos de datilografia são muito eficientes. acho que ele pensa que eu tou escrevendo coisas sem sentido, coitado.

meu cigarro se acabando, meu tempo também.

é o fundo do poço, agora no rádio. um pouco sozinho. falta de jeito, protelar sempre, pra depois, quando agora é só esperar. viver então esperando que.

tenho absoluta certeza que não passo dos vinte e nove, dizia aquela menina. e de fato.

aí eu pergunto: por que não se alegra mais do que não?

tem também uma coisa de tempo, dos 29, da: vida, clama, eu já te saquei, eu só penso nisso.

atenciosamente.
 
 



 
Foguinho foi há anos pra São Paulo, mas hoje mora no Rio, trabalha na sucursal da IstoÉ, tem uma filha chamada Luiza e ainda escreve eventualmente pro Não.