TEORIA DA NÃO-PRÁXIS
por Alberto Groisman
Publicado originalmente no Não 34, outubro de 1978
De todos os saques de cabeça, três inquietam
os pensadores de nosso tempo. O "pé ante pé", o "foi no frigir
dos ovos" e o "pernas, pra que te quero". E, desses três, ampliam-se
várias perspectivas. Por exemplo, se, realmente, "se correr o bicho
pega", é lógico inferir que "se ficar o bicho come". E de
uma construção objetiva se chega a uma afirmação,
por assim dizer, mambembe: a formulação do ideal utópico
da realidade da não-práxis. E não se deve ter
medo de estabelecer o discurso positivo da não-práxis. Não
se deve ter receio de trilhar seus caminhos, pois, antes mesmo que se possa
chegar a encontrá-los, esbarra-se com um inevitável peso
na cabeça. E se chora muito. A não-práxis encerra
duas formas de participação-expressão: caminhos de
fuga e olhares clandestinos. A visão não-praxista da realidade
constrói duas razões para viver: a espera e a surpresa. A
espera se concretiza quando se está numa esquina sem muita vontade
de pensar em outras coisas a não ser nos loirosos cabelos que vão
surgir quando se abrir os olhos. A surpresa é uma forma de se esconder
a vontade que se tem de dizer "filho da puta" com muito amor. Adendo: a
surpresa é uma forma de chamar o amor de pieguice. A realidade concreta
não-praxista é um tanto fluida, não se pode fazer
dela o que se quer. E essa realidade costuma superar os conceitos de razão.
A não-práxis é praticamente transcendental a Deus,
ao Criador do Universo ou a qualquer forma de início, fim ou processo.
A não-práxis demonstra-nos que a superação
é tão falsa quanto a continuação-construção.
E que a verdade nada mais é que a verdade. A não-práxis.
Oh, a não-práxis! Como é babaca a não-práxis.
Proposta: riam antes que termine a piada...
Alberto Groisman hoje mora em Londres, onde prepara sua tese de doutorado
e vai ficar puto quando souber que publicamos esse texto. Quem sabe assim
a gente descobre o e-mail dele?