INCENTIVOS E PARCERIAS
 
por Álvaro Magalhães
 
Nos tranqüilos dias de carnaval em Porto Alegre, enquanto os engarrafamentos passavam na tv, até pensei em promover uma falsa polêmica com o Giba sobre os incentivos fiscais "enquanto" instrumento de política cultural. Diria que o bicho não é assim tão feio, que é melhor os desvios dos incentivos fiscais a nada. E que seria um instrumento válido, se bem usado e controlado. Até diria que executivo de empresa capitalista é tão gente quanto burocrata da cultura ou o representante corporativo da sociedade civil em algum conselho que fiscalizaria os incentivos. Que deveríamos lembrar dos governos Collor e Collares. Logicamente, tudo isto seria pra encobrir o triste início de ano para um colorado e, tal como o Gerbase, petista e fiel colaborador do Não.

Mas tudo tem limite: fazer do Beira Rio cenário para a gravação de um show "popular" do Pavaroti com abertura do "nosso" Rei, financiado com dinheiro do tesouro estadual, no dia de aniversário do glorioso alvi-rubro é demais. Não interessa se a "parceria" foi feita pela lei dos incentivos fiscais ou por patrocínio (como se deu com 400 mil reais para o primeiro Planeta Atlântida, segundo a ZH): o dinheiro é o mesmo, e seria público. [Não quero nem pensar que este ano serão gastos mais de 60 milhões em publicidade do Governo Britto, cerca de metade de todos os investimentos da prefeitura de POA em 1998 (contando com o dinheiro da perimetral nova). E muito menos pensar que a RBS fatura por ano, só nos negócios próprios, mais do que a mesma prefeitura arrecada (cerca de 800 milhões de reais).]

Voltemos ao "show". Ele faria parte de uma política de promoção de eventos culturais, com potencial turístico e de elevação de auto estima dos gaúchos, que fortaleceria economicamente a produção cultural. Para satisfazer estas necessidades, se financia um programa de tv, "cultural", que provavelmente a RBS irá vender para todo o continente (não porque seja bom, mas porque será inédito). Sem contar com a receita dos 60.000 ingressos populares cujo preço varia entre 15 e 250 reais. Mas sejamos justos: o governo Britto está cumprindo o que prometeu: "parceria".

Alguém poderia pensar que esses dinheiros dariam pra sustentar a produção local e fazer shows de porte razoável por um bom tempo. Bem ou mal, isto foi feito pela prefeitura local na época em que não havia dinheiro federal e estadual na "cultura" e que as parcerias não dominavam a cena cultural da província. Para falar a verdade, pagar as contas da CRT e do Pavaroti me fode o bolso, mas o que me fode o espírito é ver o meu lado inerte.

Ao mesmo tempo em que eles têm iniciativa, a prefeitura fica parada. E ainda marca data pra inaugurar obra que nem tem lugar definido, até fica criando adversários de graça (ver últimos Oi! Menino Deus). Alguém soube que houve um "dia da música", "com toda a infra-estrutura posta pela prefeitura", que imitaria Paris? No meu tempo, este tipo de parceria tinha nome: exploração de músico. Nem quero lembrar que o atual prefeito disse, na sua posse no Araújo, que vai transformar a cidade no terceiro pólo de artes cênicas do país (seja lá o que for isto, que importância tenha e decidido sejá lá como). Segundo seu coordenador declarou à ZH, o último Em Cena teve o custo médio do ingresso de 50 reais. Vinte mil pessoas teriam assistido o programa, que custou um milhão, apesar de que, da prefeitura, saíram R$ 500 mil. E isto seria competência. É, pessoal, tudo é muito relativo.

Quanto ao colorado, desculpa Nei, mas ah! o colorado!!!!

Feliz 98, turma... Que o nosso querido editor do 54 tenha um feliz aniversário. Que a turma sexuada do Não continue mandando brasa. E pra quem for ao Beira Rio no dia 4, vai meu abraço.

Alvaro Magalhães
março/98


P.S.: Sabe qual é a melhor saída pro Inter e pro Olívio?

R.: O Ibsen Pinheiro ser coordenador da campanha do Britto em tempo integral.