Por Tomás Creus A última moda, depois de lançar um romance esotérico, é lançar o seu "guia de leitura", faturando ainda mais em cima dos burros que não entenderam o primeiro livro. Era o que eu, modestamente, pretendia fazer aqui. Entretanto, como não faturei nada com o meu conto, e, mesmo, poucos leitores do "Não" o leram até o fim, dividi este ensaio em duas partes. A primeira é o "Guia de Leitura" propriamente dito, e a segunda, uma lista de conselhos dizendo o que você deve fazer para escrever seu próprio best-seller. Você clica e escolhe o que quer ler. Se é que quer.
B. Como escrever um best-seller esotérico
ou de auto-ajuda
A. GUIA DE LEITURA DE "UM ANJO ENTRE NÓS" Numa primeira leitura, o conto de T.C. pode parecer uma grande bobagem. Numa segunda leitura, também. E numa terceira idem. Mas faça um esforço e leia-o pela quarta vez, e você notará algum mérito e, quem sabe, até algumas mensagens ocultas. Por se você está com preguiça de ler de novo, segue um resumo delas. 1. O anjo chama-se Gabriel, o mesmo nome do anjo que anunciou o nascimento de Jesus. Por coincidência, é também o nome de um conhecido "rapper" brasileiro. Não há nenhuma relação entre os dois fatos, mas eu achei interessante comentar. 2. O nome do personagem que morre é "Jonas". Tire a letra "J" e a letra "N". Troque-as por um "T" e um "M", e você tem "Tomas", o nome do autor, só que - notem bem - sem acento. É evidente que isso mostra que o autor tem um sério complexo de culpa infantil, causando assim sua auto-expiação como personagem de ficção. Como já disse Freud, "aí tem coisa" ("Der ist Kotz"). 3. O nome de outro personagem é Jorge. Atenção: isto NÃO É uma referência ao Jorge Furtado, e muito menos ao Jorge Amado. Na verdade, trata-se de um erro de digitação, pois o autor queria escrever "Atanásio", mas não sabia se era com "s" ou com "z", e se complicou. 4. Se você pegar a primeira letra da primeira palavra do primeiro parágrafo de cada capítulo, você formará a palavra "NDEAAAMP". Não significa nada em português, mas há rumores de que deve significar algo terrível em hebraico. Provavelmente uma maldição, ou algum palavrão cabeludo. Melhor não traduzir. 5. Se você ler o conto de trás para diante em voz alta, encontrará mensagens satânicas subliminares e uma exortação ao sexo oral com ninfetas. Bem, se você é tão imbecil a ponto de ler um conto inteiro de trás para diante em voz alta, é capaz de encontrar qualquer coisa. 6. Há muitas citações filosóficas no conto, algumas diretas, outras obscuras. Isso é proposital, pois o autor queria passar por um sujeito culto. Não enganou ninguém, mas as citações permaneceram, pois ele tinha preguiça de escrever tudo de novo. De qualquer modo, isso só evidencia que um conto tem muita eficácia quando escrito com bom gosto e erudição. Infelizmente não é o caso deste, mas fica o conselho. B. COMO ESCREVER UM BEST-SELLER ESOTÉRICO OU DE AUTO-AJUDA 1. Seja sincero: Aldous Huxley observou certa vez que os autores de best-sellers são sempre "sinceros". Não no sentido de dizer a verdade, mas no sentido de que a sua obra é a expressão real e direta do seu autor. Quer dizer, o Paulo Coelho não escreve o que escreve só pela grana, mas por que realmente acha que suas histórias são boas, assim como o Sidney Sheldon ou o Robert Ludlum realmente fazem o melhor que podem. É por isso que tentativas de criar "artificialmente" um best-seller não dão certo - quer dizer, tente você escrever um livro esotérico e vender um milhão. O que acontece (explica Huxley) é que algumas pessoas têm mentes de "best-seller" e outras tem mentes como a de Joyce. Alguns têm talento, outros facilidade para conseguir dinheiro (ou então um bom especialista em marketing). 2. Seja picareta: Está certo, no ramo das vendas uma dose de cinismo não faz mal a ninguém. E você também não precisa acreditar em 100% do que escreve. Digamos o seguinte: idéias simples vendem melhor do que idéias complicadas. A mentira rende mais do que a verdade. Escândalos fazem mais sucesso do que vidas banais. Listas de regras ("como escrever um best-seller", etc.) chamam mais leitores do que longas explicações. 3. Use a linguagem científica, mas não o método científico: No outro dia eu li a resenha de um livro que falava da cura de várias doenças através do uso da teoria da relatividade combinada com algum tipo de massagem. Não quis ler o artigo até o fim, mas ficou clara uma coisa: a autora do livro não deveria entender a fórmula de Baskhara, quanto menos as de Einstein. Mas, como ninguém mais as entende, e o público não é muito exigente, o livro era um sucesso. (Para saber mais sobre picaretagens travestidas de ciência, leia "O Mundo Assombrado pelos Demônios", de Carl Sagan). 4. Seja vago:
É a regra básica dos adivinhos, neurolingüistas e profetas.
Por exemplo, você, à maneira de Nostradamus, escreve: "O Grande
Urso Negro subjugará a estrela da manhã". Isso pode significar:
5. Seja breve: As pessoas cansam rápido. Dê umas cinco ou seis dicas e pronto, o resto você deixa para o próximo livro. |