SER CONTRA A GUERRA NÃO É SER PRÓ-SADDAM
por Tomás Creus
Entre as críticas que alguns fazem ao movimento pacifista contra a Guerra no Iraque, a mais lúdicra é a de que ser contra a guerra seria ser a favor de Saddam Hussein. Ou seja, para provar que somos contrários a um ditador teriamos que necessariamente apoiar o bombardeio de civis no seu país.
Mas a razão pela qual esta guerra está tão contestada por pessoas das mais diversas tendências políticas e classes sociais (ouvi comentários espontâneos desde o funcionário dos correios até o sujeito que veio consertar o telefone aqui em casa), e todas as pessoas deste mundo que ainda guardam um mínimo de bom senso, é que se vê claramente que se trata uma guerra injustificada, moralmente condenável, que poderia facilmente ter sido evitada e que poderá ter conseqüências perigosas e imprevisíveis. Pode até “dar certo” (no sentido de que cause poucas mortes entre civis e consiga substituir o regime de Saddam Hussein por uma democracia real), mas o risco de dar errado (em todos os sentidos possíveis) é muito maior.
Existem dezenas de regimes ditatoriais ou anti-democráticos no mundo: na Coréia do Norte, na China, no Paquistão, em Cuba, no Zimbabwe. Sou, como muitos, contrário às práticas desses regimes, mas não é por isso que acredito que a solução seja começar a jogar bombas sobre Pyongyang, Pequim, Havana, Islamabad ou Harare — ou, já que estamos, sobre o Washington de Bush. Os únicos que apoiam esta guerra ou são pessoas que não tem a menor noção da realidade — confundem Saddam com bin Laden, que odeia o governo secular de Saddam — e acreditam poder modificar o mundo como se este fosse um tabuleiro de xadrez (ou seja, os idiotas); os que tem uma concepção tão alta de sua própria moralidade religiosa que acreditam estar do lado do Bem e não aceitam qualquer tipo de censura (os loucos); e aqueles que lucram com a guerra (os canalhas). Há na administração Bush pessoas dos três tipos.
Os críticos da guerra também são acusados de “anti-americanismo”, mas talvez a maior demonstração de anti-americanismo venha do próprio Bush e seus asseclas, que não somente conseguiram acabar com toda a genuina simpatia mundial a favor de seu povo após os atentados de 11 de setembro, como rapidamente estão transformando palavras caras ao país como “liberdade”, “democracia” e “paz” em meras figuras de retórica. A política de Bush definitivamente não é representativa dos melhores ideais americanos, e as 150 mil pessoas que marcharam contra a guerra em NY sabem disso.
Mas o pior de tudo talvez seja que com essa atitude agressiva, a administração Bush parece estar dando razão à lógica terrorista, segundo a qual o único meio de resolver conflitos e impor opiniões políticas é através da violência, do “choque e pavor”. Pode ser bom para quem ganha dinheiro com a indústria bélica. Mas nós, meros cidadãos, não queremos viver num mundo assim, e é por isso, e apenas por isso, que a maioria das pessoas é contrária a esta triste guerra.
Tomás Creus
tcreus@terra.com.brAlguns Links:
http://www.haroldpinter.org
(site do dramaturgo inglês com textos e poemas contra a guerra)http://dear_raed.blogspot.com
(blog do iraquiano “Salam Pax”)http://www.guardian.co.uk/comment/story/0,3604,919538,00.html
(brilhante artigo do biólogo Richard Dawkins, no Guardian)